Crónica

A TEORIA DO NADA

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Carolina Campos

Cada vez mais acredito que os dias de maior revolta são aqueles que resultam nas melhores crónicas. Hoje é um desses dias.

Hoje a revolta centra-se num tema que me tem vindo a incomodar e que me leva quase instintivamente a fazer a seguinte pergunta: porque é que umas mortes são mais importantes do que outras?

Parece que ainda ontem não se ouvia outra coisa senão, “JE SUIS CHARLIE”. No entanto, os dias foram correndo, semanas foram passando e a onda de solidariedade dissipou-se. Mas aquilo que se viveu nos dias seguintes após o ataque à redação do Charlie Hebbdo será para sempre relembrado como uma das maiores manifestações sobre o direito da liberdade de expressão de todo o sempre. Não posso negar e ser hipócrita ao ponto de dizer que fui indiferente à onda de revolta que se espalhou por todo o mundo. Também eu quis fazer parte daquele movimento. Mas, depois da tempestade, chegam os dias claros e o tempo da reflexão.

Aqui há uns dias, deu-se um massacre de uma dimensão assombrosa. O mundo assistiu à morte de nada mais nada menos do que 148 estudantes numa universidade no Kenya.

O mundo viu, lamentou e esqueceu. Não houve lugar para uma revolta mundial nem para uma caminhada solidária e poucos foram aqueles que partilharam esta atrocidade nas redes sociais. Afinal de contas, estas 148 vidas representam muito pouco para aqueles que acreditam que foi só mais uma desgraça num sítio muito distante e sem a devida importância. De facto, estes estudantes não faziam parte de um grande jornal nem eram conhecidos… Mas tinham o direito à vida e esse sim é um direito que vem acima de todos os outros.

Aquela teoria de que aquilo que se passa lá fora não é suficientemente importante é uma realidade demasiado assustadora para não ser discutida. É como se vivêssemos na teoria do nada, onde a vida de inocentes vale menos do que uma folha de papel.

O mundo precisa de acordar. Mais do que “somos todos Charlie”, somos todos seres humanos e isso é o que realmente deverá prevalecer.

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