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Crónica

A PRISÃO DA LIBERDADE

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Tiago Vaz

Tiago Vaz

Por estes dias, celebra-se em Portugal o aniversário da Liberdade. É algo bom para celebrar, um ideal do qual derivam e com o qual se ligam muitos outros. Mais que celebrar, contudo, deveríamos ponderar: 41 anos depois da ditadura… somos livres?

Não pretendo aqui alongar-me numa definição de liberdade. Opto apenas por dizer que, como tantas criações humanas, é subjetiva e passível de opiniões e discussões. Apesar disso, um ponto em comum pode ser estabelecido: implica a não restrição. Implica poder escolher, sem pressão ou impedimentos. E claro, no seu estado mais puro, isto é utópico e dificilmente será alcançado. Mas, até certo ponto, deveríamos ter hoje mais facilidade em exercer a nossa liberdade.

Contudo, quando viajo, quando socializo, quando me auto-analiso, acabo por constatar que continuamos tão presos como há 40 anos atrás. Apenas trocámos de prisão. Naquela altura tínhamos a força, a lei e o Estado. Hoje temos convenções e regras sociais, medos, gadgets e o sufoco do dinheiro.

Na nossa ânsia por todas as liberdades que a Liberdade traria, de criar mais e mais, consumir mais e mais e ser mais e mais, criámos um sistema que nos oferece a liberdade numa corda, para podermos ser presos e soltos ao sabor de quem a controla. Do grito de revolta, da vontade de não sermos controlados por um só homem, um governo, sobra apenas um sussurro controlado por marcas e hashtags, por popularidades e amigos que nem conhecidos são.

Da ditadura do Estado Novo que era um problema português passamos para uma ditadura mundial, em que todos nós vamos sendo passivamente usados, em que as nossas vidas vão sendo cada vez menos nossas e mais do mundo. O toque sublime em tudo isto? Somos nós que o permitimos, que aceitamos sem nunca ler os termos e condições desta sociedade e deste mercado de pessoas. É a nossa indiferença e cegueira perante o rumo que leva o mundo que permite que esse mesmo rumo nos leve.

Presos em plena Liberdade.

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