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Crónica

CASAS PORTUGUESAS

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Álvaro Domingues

Se o Raúl Lino de dentro da sua mística vislumbrasse este casario teria um estrelico e desistiria para sempre da sua demanda pelo santo graal da casa portuguesa. Os educadores do espírito do tempo da outra senhora e do português suave, ainda tentariam pôr umas andorinhas nas paredes, mas elas estatelar-se-iam exangues em mergulhos suicidas para o abismo do asfalto. Os que pensam que as casas são emanações do povo, do sangue, da terra e poéticas do género, ficariam em convulsões, hirtos e esticados como uma lampreia seca fumada. Um modernista arriscaria algo sobre a crueza do betão do muro, a geometria da casa do alto e a bidimensionalidade abstrata da de baixo; logo desidrataria como o quintal dos muros destruídos.

De modo que vos diria mais nada. Aquela felicidade que imediatamente brota de certas imagens, alheou-se daqui. Há um automóvel esfacelado do lado esquerdo e paira uma estranha flutuação entre o abandonado e o eternamente inconcluído. Gere-se a escassez nesta cascata e os cofres não devem estar cheios.

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