Crónica

REGRESSO ÀS AULAS? JÁ?

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Beatriz Carneiro

As caixas de correio já se enchem com publicidade ao tão esperado (ou nem por isso) recomeço da atividade estudantil. Já se fazem orçamentos do dinheiro que se pode gastar e inventários do que ainda dá para aproveitar do ano passado. A Maria já recorta jornais e revistas para decorar os seus cadernos pretos e faz umas etiquetas para identificar as disciplinas. Agosto ainda nem acabou, mas já se trabalha afincadamente para o regresso à “escolinha”.

É verdade, agosto ainda nem acabou e os guarda-sóis, as toalhas, as bolas de praia, os baldes, pás e aqueles brinquedos engraçados, que transformam a areia molhada em estrelas-do-mar, já foram substituídos pelos cadernos, mochilas, estojos, capas, capinhas, canetas, lápis e tudo o que se acha necessário para voltar à escola. Os hipermercados já se encarregaram disso.

“Regresso às aulas? Já?” Logo agora que o Sr. Jorge ficou de férias e queria aproveitar a tranquilidade dos seus preciosos quinze dias de descanso. A filha de oito anos já lhe disse que se têm de pôr a caminho, porque os cadernos da Violetta podem esgotar.

Na casa ao lado, a D. Júlia avisa o filho de quinze anos, pela centésima vez, que ele tem de fazer a lista do material que precisa de comprar, ao que o rapaz, ainda meio atordoado de ouvir a palavra “escola”, responde: “Regresso às aulas? Já? Fogo mãe, estou fora há dois meses e já me querem lá outra vez?” Ele que ainda tinha esperança que, este ano, fosse só para voltar em janeiro.

A época do regresso à escola deve ser a altura em que o português é menos português. Não deixa tudo para preparar à última hora, em vez disso, todos os detalhes são pensados. E, aqui, entram as listas e mais listas do que é preciso comprar, desde a borracha aos livros do puto que já vai para o 5.ºano. E, à semelhança das épocas de saldos, é uma correria ao Continente mais próximo e salve-se quem puder, porque se a Ritinha quer a mochila cor-de-rosa, é essa que vai ter.

As festas de verão ainda acontecem e estão para acontecer. As festas da terra estão longe de acabar, a família Costa vai apanhar o avião para Roma amanhã, o sono ainda não está em dia, ainda há muitos filmes e demasiadas séries para ver, muitas jantaradas com os amigos que ainda não conseguiram encontrar a data ideal para todos. Os mergulhos ainda nos esperam e o pôr-do-sol ainda tem aquele brilho de verão. “Regresso às aulas? Já?”

E se esperarmos por setembro?

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