Crónica

CARTA A VIKTOR ORBAN

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Tiago Aboim

Caro Viktor Orban, venho por este meio escrever-lhe a seguinte carta. Se me permite, vou tratá-lo por Viktor.

O senhor é Primeiro-Ministro de um país que durante 44 anos, estava sob os ditames da então União Soviética, sofrendo restrições às liberdades individuais e coletivas de um povo, conceitos proibidos como a solidariedade e democracia, sob pena dos tanques do Pacto da Varsóvia, entrarem em solo húngaro, tal como havia acontecido em 1956, na célebre “Revolta de Budapeste”, que culminou na execução de Imre Nagy dois anos mais tarde.

Viktor, todos os europeus sabem do medo e da repressão que assolava o seu país até 1989 com as reformas do líder soviético Mikhail Gorbachev. O seu país caminhou para a democratização com a realização das primeiras eleições livres no ano de 1990. A sociedade húngara abriu as portas à sua integração num espaço livre, fraterno e solidário chamado Europa. Essa mesma Europa que não ergue muros, mas sim abre caminhos, com esperança e tolerância.

Caro Viktor, a construção de um muro em território húngaro constitui, na minha opinião, um retrocesso civilizacional. A dignidade não deve ser uma exclusividade ou um privilégio. Não devemos alimentar medos e conceitos que há muito desapareceram na Europa. Devemos sim erguer o princípio da solidariedade, cooperação entre os povos, mas sobretudo, o respeito pelos Direitos Humanos. Não podemos transformar a Europa num palco de uma disputa civilizacional e cultural, mas devemos elevar a Europa da tolerância e do respeito. Devemos deixar às gerações vindouras um compromisso que aprendemos com a História.

A força das palavras é apenas um carril que necessita de um comboio de atos para avançar em torno da dignidade humana.

Caro Viktor, foi apenas um conselho de um aprendiz de historiador, mas sobretudo de um cidadão da Europa, que nasceu em 1989, ano que marcou o início de uma nova era, a nossa.

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