Crónica
MIA, COUTO
Este mês comecei a colaborar com o Jornal Universitário do Porto. É bom pertencer ao JUP e fazer o que ele me diz e ele deixar-me fazer o que quero. Foi rápido o namoro, numa semana em que a minha gata pôs um filho no mundo, o Couto, quase luz, de tão branco como a mãe.
Desde que conheço a minha gata, desconfio do grande coração dela. Partejou quatro vezes. Os partos, esses, sem exceção, uma aberração. É como se dela esquivasse um monstro multiplicado por vários, algo impossível e desnaturado, por entre os fluídos escarlate. Um monstro, por si só, já é coisa grande demais para uma gata.
Desconfio, também, que engravida por ter medo de ficar sozinha, ou por não saber rigorosamente nada sobre o amor, ou saber em demasia e daí a quantidade de vezes que dá à luz. Gosta de reprodução ou simplesmente pensa que os homens são animais perigosos que nunca poderia, ou deveria, sequer amar e, portanto, dedica-se aos gatos.
As manifestações dos gatos, e de tantos outros animais, são plágio dos homens: no fim do parto, passou-lhe a língua, envolveu-lhe as patas, aconchegou-o no seu leito. Abraçou-o humanamente. Afirmou, talvez, que gostava muito dele.
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