Crónica
“DESDE ONTEM”
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O camaleão do rock partiu. Deixou um espólio de admiradores que entusiasticamente apreciaram o seu trabalho mas parece que, para alguns, apenas desde domingo. Que são, e não deixam de ser, de facto, as pessoas mais tristes do mundo.
Falo daqueles que o admiraram in loco principalmente na hora da sua morte, quando a carne é levada à terra. E que sofrem, não acreditam, ficam mesmo à espera que ele volte, abra os olhos e cante aquelas coisas de sempre. Lembram-se de morrer com a morte dele, sem morrerem, só porque sim, porque faz parte de mais uma convenção social chorar e inundar a rede social com o verdadeiro desabafo de incredulidade pelo desaparecimento físico de uma referência incontestável. Porque se trata de uma celebridade da cultura popular, com uma maneira muito singular de pensar. Que usava, veja-se só, o corpo como tela.
Os verdadeiros fãs é que lhe valeram. E eram – e são – muitos, apesar de tudo. David parte, mas está vivo. Porque não é de morrer. Muito menos às mãos de quem o toma como passageiro.
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