Crónica
MAIS UMA ANALOGIA DO COPO
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Todos despejamos o amor no copo da vida. Repetimos a dose quando bebemos o que, eventualmente, tomamos de um só trago. Mas nunca esperamos que o copo se parta. Um copo partido é uma tragédia que castiga, pune e fere gravemente a estrutura de quem bebe o amor.
O mesmo acontece com um país a quem é passada, pela segunda vez num ano, a lâmina pelo peito. As pessoas debatem-se pela vida, esperneiam de terror, desmaiam, por vezes, ou fingem a morte para ter direito ao direito da vida. A tristeza, por sua vez, era o contrário de tudo quanto devíamos querer, mas pela fúria faz-se tudo. Como se a fúria entrasse corpo adentro como balas.
Hoje, mais do que ontem, ninguém está a salvo em lado nenhum – nem um copo se livra de partir, seja num jogo de futebol, na esplanada de um restaurante ou numa discoteca. Tudo isto num país a quem cabe, depois, limpar tudo. Considero, por esse motivo, que vale de muito intensificar o amor por quem gostamos. Afinal, nunca se sabe se alguns copos dar-nos-ão um amargo na boca.
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