Crónica
UMA APÁTICA PERFEIÇÃO
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Ricardo dos Santos
Segundo a estirpe que a cria, as atuais relvas picam magoando com intensidade tal, que a dor pode não ser catalogada.
Num jeito de conclusão irónica, se a criança cai, aconselho a levantá-la (sob risco de morrer sufocada), se o menino chora é dar-lhe o que quer ascendendo até nós (sob risco de um novo dilúvio) e, por fim, se anda a correr, é sentá-lo na televisão (assim não chateia!).
Pois é … Senhores Pais de tanta perfeição que tentam granjear olvidam o jeito todo, sendo grave a premência e falta de oxigénio que depositam no prato de infância (quase como pássaros completamente protegidos do frio do metal da gaiola…. Podem constipar-se!)
Faz hoje uma semana que uma pessoa olhando para um adulto perguntou de onde vinham as batatas: “ Pai as batatas vermelhas vem da prateleira?”. Eu pergunto: Será a prateleira que cria batata ou a criança que perguntou? Numa hipótese elitista, estamos a cultivar uma geração que não pode tocar num ovo (“Cuidado com a Salmonela Gonçalo!”) , num bife ( “ João cuidado com a doença da vaca louca”) ou numa ortiga ( bem isso também ainda agora não toco !). Noutras toscas palavras são os meninos da cidade que conhecendo a plena natureza advogam pela sua proteção.
Será antagonismo ou preciosismo? Alguém que nunca tocou numa árvore como pode defender a sua conservação?
O que lhes vale é que respiram o oxigénio da fauna. Porém, apesar da escrita ser minha, a revolta foi do Alberto Caieiro: “Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la/ E comer um fruto é saber-lhe o sentido.”. Foi escrito para quê ?!
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