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Devaneios

BEBER, CAIR E LEVANTAR!

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Não bebo. Quando o faço, choro. Na verdade, fico pior do que quando, consciente, me ponho a ver vídeos de cães no youtube. É  como se aos animais se somasse um filme adaptado de um qualquer livro do Nicholas Sparks mais uma ou outra música, sobre amor, do Lil Wayne. Entre múltiplas razões, emociono-me porque compreendo e apoio um sonho epifânico de abandonar a faculdade para passar os dias no jardim da rotunda da Boavista a alimentar pombos, ou então, simplesmente, porque a indignação fala mais alto no momento em que recordas que a tua crush é comprometida e “ela não tinha o direito de te fazer isso!”.

O mesmo acontece com coisas sérias. Entenda-se “sérias” como uma gradação crescente entre o Jornal da Noite e aquela novela brasileira – apostassem no dramatismo e no português do Brasil e o horário nobre estendia-se do tarot às oito da manhã até às três da madrugada com as televendas.

Subtraindo a emoção, quem me conhece sabe que meio copo de vinho espumante dá-me sono, duas cervejas troca-me os pés e meia garrafa de vinho põe-me a dormir. Com um copo conto a minha vida, com dois conto a tua e, com mais de meia garrafa, faço a história, enceno e represento – é um verdadeiro teatro, em que as mesmas cortinas que fecham a cena servem de figurino (se é que me entendem!).

Inocente, experimentei a minha primeira bebedeira com dezanove anos. Há quem adore, eu só acho que ouvir colegas falar sobre ginásio é melhor que perder os sentidos ao lado de um adolescente entediado porque a “moca não bateu!”. Quando saí de casa para morar no Porto, ninguém me avisou – não me disseram que precisava de vir com experiência em misturar bebidas e aguentar shots de vinho em mais um jogo de cartas que eu não faço ideia como jogar. O São João tem destas coisas e torna-se um ótimo exemplo quando quase partes um pé ao descer um passeio com dez centrímetros de altura.

Entre promessas de subir à roda gigante e a fuga à tradição do alho, o sono permanecia adiado. Os dois minutos em que adormeci na fila para o quarto de banho de um qualquer café lá para os lados dos Leões não se estenderam por muito mais, porque acordei encostado à porta com o funcionário a gritar para o pessoal da fila, que se alongava, sem consumir.

Horas depois de uma conversa comovente em volta do facto de uma sangria me ter levado à estação de metro, acabei a madrugada com uma foto das minhas calças no Instagram – com o pânico latente do formigar da cara e umas quantas pessoas a satisfazer necessidades fisiológicas, a dez passos da soleira da porta onde estava sentado. Simbolizei, assim, o meu primeiro São João no Porto como “A minha noite! #awesome”.

Não quero, com isto, fazer apologia ao consumo de álcool e, para passar vergonhas, basta-me existir, mas isso é conversa para outro dia.

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