Devaneios
COM ESPONTANEIDADE, COM VERDADE
Esta constante necessidade de isolamento. É assim que funciona o meu procedimento. Não há manual de instruções. Sou conduzido por esta vibrante e entoante espontaneidade, a mesma que se apodera do que sou e do que tenho para oferecer. Não dá para controlar. Sou o seu súbdito. Um súbdito de uma força maior. Conformado estou com a sua virtude. Não tenho muito mais a apontar. É assim que me concretizo. Com espontaneidade, com verdade.
Retomo a minha origem. Era eu uma deambulante alma. Perdida, de rumo por definir, de diretrizes por alinhar, de histórias por contar. Mal sabia que viria a ser trovador. Um trovador cujas cantigas cantam o coração e vão para além do habitual amigo, do acostumado amor e da recorrente sátira e seu parente escárnio. Há mais. Quis ser mais no meu âmago. Mesmo sem saber que o queria, estava traçado o meu destino como tal. Cá estou eu, a ser jogado pela espontaneidade. No entanto, é assim que me concretizo. Com espontaneidade, com verdade.
Tento descentralizar o ponto da situação do outro. Procuro a singularidade do meu ser, do meu viver e do meu crer. Vagueio nesta experiência com um fim distante mas de importância incessante. Essa nunca vacilará. Sei de como preciso destes momentos. Descontextualizado, sem nexo nem lógica forçada ou impingida. Sinto-me assim, livre. É assim que me concretizo. Com espontaneidade, com verdade.
Após tanto plano e cogitação, formo algo de palpável. Algo de materializado no que toca à circulação do meu sangue, da minha linfa e da pulsão que entusiasma o meu querer. Composto na solidão, é alheio ao outro, ao vínculo e à acessível dependência. Defensivo e conciso, sem grandes aventuras nem desventuras. O que se forma é robusto, é íntegro, é facto. Tudo proveniente de uma entusiasta que rejubila perante o espelho. Basta-lhe isso. O reflexo do que aparenta e a sua proximidade ao que a essência defende. Esta convergência gera frutos. Na colheita nasce essa tangibilidade. Tudo numa aura e num ciclo de naturalidade. É assim que me concretizo. Com espontaneidade, com verdade.
Com espontaneidade, com verdade,
Sou isto, misto de uma certa, mas dúbia realidade
Com molas de impulsão e respingos de saudade.
Eu só, mas em irmandade, palpitando e segregando a humilde espontaneidade.