Devaneios
FUGAZ OLHAR QUE ME ATORMENTA
Fugaz o olhar
Que me queima e faz pensar,
Que se de Deus existe
Me fez para te contemplar.
Encaixas as peças soltas
Desencaixadas pelas voltas que a vida dá,
Fugaz o olhar
Que os meus passos fez descarrilar.
Amei sem saber que amava,
Como ama a areia o mar que sobre ela pairava.
Desejo-te com a força e a intensidade com que as ondas se enrolam na areia
Ou como a neve cai nas montanhas de Seia.
Está frio lá fora, eu sei,
Mas por momentos não pensei,
Afinal amar a pensar
Não é amar, é matar.
Os sentimentos não se matam, constroem-se,
O amar não se pensa, vive-se.
E o mundo não se mata nem se pensa,
Vive-se, constrói-se.
Não este mundo terreno,
Mas o mundo que tu és em mim.
E se um dia o mundo chegar ao fim,
Saberei o que é ser feliz em pleno.
Um pleno de mãos solitárias
Que se preenchem quando juntas,
Corpos soltos, isolados e com identidade
Que se confundem, juntos, numa nova realidade.
O teu pleno preenche a minha realidade,
Até Deus, desarmado, sabe que é verdade.
A verdade inegável que ele criou o princípio e fim
E que nós criamos, juntos, a eternidade. Sim, não temos fim.
A morte não é fim,
Pelo menos para mim,
Estás eternizada em tudo, até nestas letras,
Ah mulher, quanto me atormentas!