Devaneios

A INSUSTENTÁVEL DUREZA DO SER

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O ser é insustentavelmente duro, não leve. Muito duro. Condicionado por um sem número de fatores, de contingências. No seu crescimento, no seu desenvolvimento, no seu amadurecimento. Uma dureza intransponível no que toca à dificuldade de o controlar. São tantas as circunstâncias que passam ao lado da pujança humana. São vistas ao longe, mas sentidas de perto. Adensa-se o mistério perante a identificação do ser. Começa-se a perder a clarificação do que consiste o verdadeiro ser. Emerge a imagem do parecer, do existir, do transparecer. Meras representações. Na verdade, o que mora bem lá dentro é o ser. Nada mais.

Um ente somente conhecido por quem o é. O ser é do ser. Singular e exemplar. Todavia, o espectro que revela a perda do controlo assusta, intimida, acanha. Afinal de contas, o ser é de cada um, mas está assim tão exposto? Flagelado pelas brisas mais ou menos fortes dessas revoltas ventanias? Como assim não se gere? No fundo, nem é a influência que torna o ser pesado. Na verdade, é a preocupação, a apoquentação, a inquietação. O constante receio de perder a iniciativa e o encanto do ser. A sistemática apreensão perante o que a causa-efeito poderá trazer. Torna-se insustentável tamanha reação.

Uma condensação que traz no seu radical a tal densidade. Tal como o ser, na sua exposição e propensão de ser do mundo. Apesar de tão íntimo, não se inibe de se exprimir e de se dar ao outro. Talvez por essa razão haja tanta alteração, tanta reformulação. Não admira. Porém, é assim a sina do ser. Um ser destinado a sofrer, mas a sair por cima quando se entrega ao viver. Amar, contemplar, partilhar, brindar. No entanto, e na hora de o pesar, não sai generoso à balança. É pesado e vai acrescentando algarismos a esta unidade conforme vive mais e experiencia mais.

É o tal peso da experiência o suplemento que a maturidade traz para esta triagem. Uma cujos resultados não enganam. A dureza acrescenta clareza no esclarecimento do que é o ser. Insustentável na sua gestão, mas admirável na sua paixão e consecutiva compaixão.

 

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