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Devaneios

AS COISAS QUE MAIS GOSTO NA VIDA X

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O assunto de hoje é de tal forma sensível que me vou obrigar a beber um copinho de leite com soda cáustica, para não correr o risco de o comentar de forma demasiado apaixonada… Exatamente! Vamos falar de ativismo caseiro.

No fundo este fenómeno é a modernização da hipocrisia-religiosa-neo-caridosa, só que como Nosso Senhor Jesus Cristo já não está tanto em voga, prosseguimos com a lavagem de alma – o fingir que andamos aí a praticar o bem a ver se alguém repara e se se comove – de forma ateia. Às vezes parece que a humanidade não muda, só vai adaptando os seus vícios. Podem enforcar-se após esta frase bombástica. Têm aqui uma breve explicação de como fazer o nó apropriadamente.

O nosso ponto de partida é, portanto, a caridade cristã da treta, aquela que visa comprar um lugar no céu, frontline – para apanhar anjos e santos no mosh pit! Ele é encontrões em São Francisco de Assis, ele é empurrões no Santo Agostinho, ele é um wall of death lado a lado com a Santa Quitéria. Tudo a “esbardalhar-se” alegre e imaculadamente na eternidade! Só Santo Tirso é que, coitado, desde que lhe serraram as costas não consegue participar no crowd surf.

Depois, começámo-nos a cingir ao assinar de petições disto e daquilo. Heróis de caneta em punho! O maior sinal de pureza de espírito será então tendinites no pulso que escreve. Sem isso, São Pedro (o suga divino) barra-nos a entrada nos portões celestes. Atualmente, com os avanços tecnológicos, tranformamo-nos em revolucionários de Facebook  – partilhamos massacres, pomos bandeiras estampadas nas nossas fotografias, tudo num gesto de estupendo altruísmo. E, claro, continuamos a assinar petições, que, entretanto, foram pixelizadas… Que máximo! Eis o ativismo caseiro.

O fundamental mantém-se: para quanto mais longe canalizarmos a nossa “ajuda”, quanto mais abstrata ela for, melhor. Assim nunca corremos o risco de constatar que andámos apenas a perder tempo com patetices que em nada contribuíram para o nosso bem-estar e para o dos outros. Tempo esse que poderia ter sido utilizado em pequenas ações que subtilmente mudam para melhor aquilo que nos rodeia. E pronto, podemos finalmente mandar embora o sem-abrigo que nos interpela na rua (precisando talvez mais de uma simples conversa do que de qualquer outra ajuda), justificando que temos pressa e não podemos parar, sem que com tal a nossa consciência fique ferida.

 

NOTA: Felizmente existem projetos de voluntariado cristãos absolutamente fantásticos e do maior mérito, portanto a crítica não partiu de uma generalização, mas sim de uma atitude muita específica, tida (espero eu) por uma minoria. Quanto às partilhas Facebookísticas, evidentemente que divulgar este tipo de informação não é vergonha nenhuma. É, sem dúvida, importante, mas parece-me que não se trata propriamente de um ato nobre e enaltecedor por si só, ilusão essa que creio ser bastante comum na nossa sociedade. Não se julgue, ainda, que defendi que a ajuda só pode ser dirigida ao que nos rodeia. A minha opinião é que se estamos preocupados em desenvolver uma atitude altruísta perante vida, então jamais poderemos desprezar aquilo que está imediatamente à nossa volta. Agora, se o auxílio é para ser dirigido ao exterior, perfeito, mas sugiro que a forma mais autêntica de o fazer é ir lá aos quintos deitar a mão na massa.

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