Devaneios
Memórias Relevantes – as esponjas verdes enquanto veículo de otites, um estudo analítico
O que vamos fazer hoje é sentarmo-nos a debater um pouco sobre as nossas infâncias e a falar de Ciência – porque no fundo o tema em questão é na verdade a origem da otite.
Estudos recentes realizados em países nos quais não se lecciona Formação Musical denunciaram uma menor taxa de ocorrência deste tipo de patologia auditiva, em particular nas camadas mais jovens. Mas os investigadores não se ficaram por aqui (estavam cheios de tempo livre, os mandriões)! Debruçaram-se de seguida sobre sociedades mais primitivas, nas quais a flauta de bisel ainda não havia sido inventada, tendo-se deparado com os seguintes resultados: canais auditivos deveras imaculados, que até dava gosto; a aflorarem em orelhas graciosamente peludas! Mais, nenhuma das línguas nativas apresentava sequer uma palavra para “otite”.
A conclusão é óbvia e o artigo podia terminar já aqui; contudo, dado que (o jornal obriga a um número mínimo de caracteres por publicação, o que me obriga constantemente a encher chouriças, e que) a culpa é da minha geração, irei então deixar-vos o meu acto de contrição:
Fomos nós, com a bodega da brincadeira de, após limpar a flauta, colocar ternurosamente a esponja verde nos ouvidos dos nossos colegas em Formação Musical, que criámos a otite. E isto, note-se, entra no top 20 parvoeiras de infância quase obrigatórias! Aquela esponja, impregnada de secreções salivares e outras gosmas que tais, era uma incubadora das mais hediondas criaturas microscópicas, uma autêntica arma biológica! Eu aliás acho que muitos outros flagelos patológicos foram ali originados. A gripe das aves, por exemplo – de certeza que começou cuspida durante um Hino da Alegria mal tocado!
A disciplina em questão dever-se-ia efectivamente passar a chamar “Laboratório de Apuramento de Estirpes Bacterianas Inéditas em Agar de McConky e Introdução à Introdução Vírica Através do Canal Auditivo”. Ou LAEBIAMIVACA (não consegui encontrar nenhum torcadilho, as minhas mais sinceras desculpas). Gostaria, por fim, de saber se o Sistema Nacional de Saúde já se apercebeu da gravidade da situação e tomou as devidas medidas de prevenção – erradicação das esponjas verdes da face da Terra, remoção das glândulas salivares às crianças-que-não-eu-porque-entretanto-já-sou-crescido… Porém, não estou a par do estado das coisas; por motivos legais não posso contactar com catraiagem da primária e do quinto e sexto ano… De qualquer das formas fica o alerta.