Devaneios

UM LUGAR QUE NÃO É NOSSO

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Atravessava apressadamente o corredor, puxando com dificuldade a minha mala. Eu já tinha andado várias vezes de avião, por isso sabia que era normal ter de puxar e arrastar a bagagem de cabine. Apesar disso, desta vez eu sentia que a estava a agredir, como se tivesse vontade própria e não quisesse voar, ou que eu voasse… Começou então a sensação de que algo estava errado.

A segunda coisa que reparei foi que não havia espaço para guardar a bagagem perto do meu lugar. Confirmei o meu assento: 10A; tudo em ordem. De forma a ajudar-me, assumo eu, um hospedeiro veio na minha direção e arrancou-ma das mãos, justificando-se apenas com um grunhido insatisfeito. Deixei passar, deve ser uma altura muito stressante para eles, pensei eu, o avião tem de partir a horas.

Enquanto uma criança ao meu lado gritava freneticamente que queria ir para casa, os outros passageiros olhavam-me de forma estranha, desconfortável, invasiva até. Como naqueles sonhos em que estamos despidos em frente a toda a gente.

Confirmei outra vez se estava no sítio certo: 10A, era o que estava escrito no meu bilhete e coincidia com o assento. Como não havia mais nada a fazer, e como no dia seguinte de manhã tinha compromissos, tentei relaxar de qualquer forma.

No entanto, durante todo o voo, não me conseguia livrar daquela sensação; de que o meu lugar pertencia a outra pessoa.

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