Devaneios
MILLION DOLLAR BOBI
Parte-me o coração ver pessoas a rir-se sozinhas das próprias piadas. É como um cachorrinho estender a pata ao dono e ele lha cortar com uma motosserra. Acontece muito. Gosto ainda menos quando me acontece a mim, quando me cortam a pata com uma motosserra entenda-se, porque todo eu sou um poço de comicidade.
Vê-se assim que o corte de patas a canídeos é um problema gravíssimo. Para amenizar esta lacuna social decidi criar um programa de kick-boxing para cães manetas, ou patetas, como lhes quiserem chamar. Tem tido muito sucesso na comunidade cigana, por nenhuma razão aparente ou racional, e também na comunidade canina. Infelizmente, no mês passado um dos cães ficou tetraplégico (só tem três patas, mas também não mexia a cauda, daí o “tetra”), na sequência de uma luta com outro cão. Este cão pediu-me então para eu matar o que o deixou naquele estado. Acho que alguém devia fazer um filme sobre isto, mas talvez com cães com o kit de patas completo, só para ser mais viável cinematograficamente e as pessoas iriam sentir-se culpadas a bater palmas na ante-estreia. Já tenho o nome e tudo: “Million Dollar Bobi”. Clint Eastwoof.
Eu gostava de ser tratador de cães, mas não sou muito bom a impor disciplina em coisas. Ainda outro dia tentei desligar a máquina do café e a bichana, só para me contrariar, tirou-me um cappuccino e cozinhou-me um perú. Se eu tentasse treinar um cão ele acabaria por meter-se num gang de pitbulls, com um piercing no focinho e a consumir barbitúricos e bolo-rei dos anos 20.
Quando tiver um filho vou deixá-lo andar pela rua, na “Escola da Vida”, frequentada por muitos prestigiados seres fotossintéticos no Facebook. É bom para evitar o bullying, porque acabará por entrar no crime violento e quando for para uma escola dita normal, basta matar uma funcionária ou dois ou três alunos e passa a mensagem anti-bullying claramente. E vai ser um pessoa de sucesso este meu filho. Vai concretizar o meu sonho de abrir uma loja de jóias. Pode ser com um pé-de-cabra e com uma faca de manteiga em punho, mas o que conta é a intenção.
Ter um filho deve ser imensamente stressante. É impossível imaginar quão difícil será criar uma espécie de protótipo de pessoa, com uma cabeça esponjosa e que abana como gelatina de ananás. Só não se pode virar ao contrário nem guardar no frigorífico. Os bebés humanos deviam ser como os bebés dos outros animais e deviam sair da mãe e ficar logo em pé. Talvez até sair em moonwalk, estilo Michael Jackson, se não for pedir demais.
Nem sei como é que não há uma taxa de homicídio de bebés superior a 70% ou algo assim. Como é que um pai sabe no que vai resultar aquele ser depois de educado e alimentado com a quantidade correta de ração. Pode ser médico ou então jogador profissional de dominó. Pode vir a ser uma boa pessoa, mas será que é isso que os pais querem, tendo em conta que as boas pessoas acabam como jornalistas com escrúpulos, a.k.a. desempregados, ou empregados de balcão? Ou será que ser uma má pessoa é melhor, porque provavelmente vai ter mais sucesso? E se for daquelas más pessoas que apreciam assassinar os progenitores à base da machadada? É toda uma panóplia de questões pertinentes.
Acho que se devia fazer um “Prós e Contras” sobre questões essenciais da parentalidade. Como sobre se um progenitor que atire o bebé para a albufeira de uma barragem devia ser preso, tendo em conta que este jura muito fortemente que viu no Facebook que os bebés sabiam nadar. Ou então se jurar que era só para ver se o bebé passava entre as turbinas da barragem, já que os peixes conseguem.
E é com esta animadora proposta que saio, na esperança de que seja um dia possível criar uma planta geneticamente modificada com um tronco feito de bolas de desodorizantes roll-on e com folhas em bacon.