Devaneios
PRINCÍPIO? DO FIM SE NÃO GOSTARES
Todas as tuas lutas vitoriosas, batalhas que ganhaste e conquistas merecidas vão tornar-se pó. Ou comida de minhoca, se não fores adepto da cremação.
Morte. É a única coisa de que tenho medo. Honestamente, só ela me atormenta, só a ela temo. Mais nada. Porque se tudo, se o TUDO, se rege por aquele início que finda, quem sou eu? Quem és tu? Seres ínfimos e insignificantes? Nascemos para morrer?
Sim! Mas, não ponhamos isto – o super óbvio – em algo pessimista.
Morrer até pode ser bom. Pode ser que haja um sítio mais acolhedor que me receba, após o término da nossa vida.
Creio que não. Cada vez a minha fé está mais, paradoxalmente, forte. Cada vez estou mais fria, mais racional. Todavia, sinto mais a necessidade em crer em algo superior, para fugir à questão: mas que raio estás tu a fazer no mundo?! E, refiro-me a ti porque, se vou desenvolver esta temática, razão da existência humana, e relacioná-la com a inexorabilidade do tempo, não quero parecer egoísta. Na verdade sou; assusta-me mais o meu fim do que o teu. Adiante.
Nós nascemos, vivemos e morremos. Se há algo indesmentível é que tudo acaba. Tu nasceste, estás a viver a tua vidinha e, qualquer dia podes ser atropelado e, … finito. Acabou.
Nesse percurso infrutífero – e, adjetivo-o assim porque, se finda, não fará sentido – a que chamamos de vida, tu tentas projetar, criar algo grandioso, ser mais e melhor, para quê? Para quem? Para gerações vindouras?
Não sei a resposta. Só sei, que como toda a cambada de seres (ir)racionais que somos, também quero ser grande. E, vou ser gigante.
Tudo isto para chegar a uma questão para a qual quero encontrar resposta: porque é que o ser humano só se foca no início?
Tudo começou no Big Bang, se bem que, confortavelmente, se diga que tudo começou na maçã. Aquela que a burra da Eva pitou, mesmo advertida pelo Adão. Que homem notável! – proibir a cônjugue de comer fruta em prol da humanidade. Certa estou que na altura não havia Compal Essencial. Continuando…
Passados uns aninhos – bilhões de milhões deles – apareceram os primeiros seres vivos, ditos irracionais (ou bem mais racionais, pois não perderam tempo em reflexões que ninguém se lembra de fazer). A esses seguiram os humanos. Aquela espécie inteligente, dotada, brilhante, ou talvez não, de mamíferos que vieram mudar o mundo. Eles eram fracos e à primeira doença (suspeito que de uma sexualmente transmissível) morreram, percebendo que o que inicia também acaba.
Dado facto, decidiram dar início a uma corrente, que preconiza a (sobre)valorização do início e, mais estupidamente, da valorização do infinito – aquele oitinho deitadinho que os humaninhos decidem tatuar e postar no Tumblrzinho. Essa corrente fragmentou-se: criaram seitas, onde se defendia que, após o fim, o ser humano entrava em locus amoenus e que era bom ser ração de vermes; criaram religiões, onde um mais-que-tudo, ou vários, controlam e decidem o teu Fatum, destino esse que, uma vez predefinido, não pode ser alterado. E, também se criaram (pariram) ateus que, de um jeito relutante, negam tudo, anteriormente enumerado e limitam-se a coçar o esquerdo, enquanto dizem que só o empiricamente relatado é que se deve fazer valer, descurando duma dimensão sociológica. E que dimensão sociológica é essa?
É a que responde à minha pergunta (se te perdeste: porque é que o ser humano só se debruça no início). A resposta é:
O ser humano é estúpido, o mais irracional dos irracionais, o mais tapado, o mais esperançoso, o mais fraco, o mais crente. O mais néscio. E por ter estas (formidáveis) características, precisa de acreditar na infinidade da vida, não encarando que tudo acaba. Tudo mas tudinho mesmo tem um fim.
Embora uma mentalização de tal facto fosse eficaz, como somos fracos, não adiantará.
Vive a tua vida. Não penses. Nunca desanimes. Faz como Caeiro, e (de)limita-te a ver e a nunca observar; muito menos cogitar. Crê que és imortal e que és grande.
Eu, também fraca, anseio ser gigante. Por isso, vê lá a hipocrisia das minhas palavras.
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Alberto Jorge
30/01/2015 at 23:37
O pseudo ti Alberto Caeiro lá tinha as suas razões para se limitar a ver e nunca a observar; muito menos para cogitar.
Há momentos para tudo, inclusive para: primeiro olhar e, conseguindo, então depois ver e, vendo, então reparar, como dizia o ti Saramago. Gosto desta!