Devaneios

DEVANEIOS COM CASAS DE BANHO

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João Luís Tavares

A casa de banho mais luxuosa que jé tive o prazer de frequentar foi a do The Yeatman Hotel, em Vila Nova de Gaia (a do Intercontinental Porto Palácio das Cardosas fica escassos pontos atrás). E devo confessar (isto já são muitas confissões para um cronista…) que sou um grande apreciador não só de arquitetura mas, mais especificamente, da arquitetura de uma casa de banho. Na minha opinião, a casa de banho é das divisões mais importantes da casa (senão a mais importante, por dar resposta a uma necessidade primária como podemos constatar pela pirâmide de Maslow…) e, como tal, deveríamos prestar mais atenção a ela, arquiteturamente falando, claro está…

A ideia de que a casa de banho apenas suprime necessidades fisiológicas e de higiene está, felizmente, a ser gradualmente ultrapassada. Hoje em dia, esta divisão da casa é quase exclusivamente dedicada ao alívio emocional da pessoa e às suas dúvidas existenciais mais profundas, aquelas que surgem apenas quando se está a ler o rótulo do desodorizante ou do creme de barbear (e aprendemos que, de facto, eles nos estão lentamente a matar), ou quando estamos no duche a contemplar a nossa própria mortalidade. Agora, como se já não tivesse problemas suficientes, gostaria de introduzir a temática das luzes que se desligam automaticamente quando não detetam movimento, tema discutido periodicamente na praça pública, mas aparentemente sem grande importância. Mas, meus senhores e minhas senhoras, este deveria ser o tema principal da campanha legislativa para as eleições próximas. Qual Grécia, qual euro, quais finanças, qual quê? As luzes da casa de banho são essenciais. Assim como iluminar uma obra prima num museu é de extrema importância, iluminar as casas de banho por forma a garantir resposta às questões essenciais da vida também deverá ser de extrema importância.

Quem nunca se deparou com pérolas absolutamente geniais do pensamento humano nas portas e paredes das casas de banho das instituições de ensino superior? Está aí a prova de que tudo o que é genial, eventualmente nasceu ou passou por um devaneio numa casa de banho. Tudo isso se deve à luz perpetuamente ligada das casas de banho nas universidades e politécnicos; porque quando me cortam a luz quando estou na sanita me cortam também o pensamento e o sonho.

De todas as casas de banho que frequento, aquelas onde sou mais produtivo é naquelas em que o poder de fechar ou abrir um circuito elétrico é deixado a cargo do pensador e não a um detetor de movimento que me obriga a imitar alguém com um isqueiro num concerto ou alguém a fazer a onda… num estádio… a cada dez segundos. Acendam o raio da luz, que eu quero pensar!

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