Devaneios
O AUTOR
Acordo pela neblina matinal. No mais natural de mim, urge a sensação de navegar num rio vago, onde cada raio de sol se esbate na vela melancólica. Numa brisa de calor, talvez tenha readormecido pelo efeito que a alma da terra figura na minha personalidade. Quando vejo o sol, espelha na minha face uma felicidade indescritível, assemelhando-se a uma criança na razão da infância. Por outras folhas, pressentindo um leve crepúsculo de cristal, nasce em mim outro “eu” que me transcende. Tal sensação não se compagina com algum aspeto psíquico, todavia tomo consciência da maneira como gozo o estado de espírito da natureza.
Se olho para um rio, escrevo na imensidão do sal. Se vejo uma paisagem, registo meros rascunhos do daltonismo. Se me deito num campo, sinto-me abraçado. Atrevo a dizer que o âmago vive de acordo com os sentidos ténues de um simples contacto. Existiria a minha pessoa sem esta partitura?
Sou aluno da vida não conhecendo concretamente o reitor. Em cada auditório ladeado por paredes trespassáveis, tento não me apaixonar pela beleza incomensurável existente. Em cada janela construída de vidro colorido, por vezes, cego-me na audição. Debruçando nesse patamar, deixo de ouvir o que poderia ver e sentir. Equiparo o meu estado de espírito a uma deambulação do prazer natural. Escorre uma lágrima no sulco profundo da sensação, abandonando o meu corpo nesse instante…
Devido ao escorrer da água ou ao escorrido de mim, atraso a minha decomposição.
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