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Devaneios

AS COISAS QUE MAIS GOSTO NA VIDA IV

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Bernardo Machado

Bernardo Machado

Não sei se conseguirei expôr este delicado assunto sem estimular as minhas glândulas lacrimais… Darei o meu melhor, prometo! O que me atormenta? Copos de champanhe! Trata-se aliás de um velho trauma. Desde a mais tenra infância que sofro com isto, vim a descobrir durante uma sessão de psicanálise de duas horas, dedicada exclusivamente ao tema “espumantes”.

Começaria talvez por questionar: Quem foi o idiota responsável pelo design da vil peça vítrea em questão?! E que raio tinha ele contra pencudos? Se não gostava de pessoas portadoras de um nariz aquilino, bastava não as convidar para as festas, não era preciso ter sido tão requintado e malicioso!

Exactamente! Há quem não consiga beber de uma entrância tão pequenina. Depois claro, está um gajo num aniversário, num casamento ou numa simples celebração tascal, chega à funesta altura de sacar do Don Perignon para proceder à realização de um brinde… e como é que é?! Evidentemente, nós, narigudos, senti-mos excluídos; como que marginais numa sociedade elitista em que gente com bom olfato é ostracizada! Não, não foi para isto que se fez o 25 de Abril!

Isto não é vida para mim, não compactuo mais com este escândalo! Nas flautas de champanhe não toco eu (quase conseguia um bom trocadilho); nem vê-las à frente! Se o Dantas teve de morrer tendo por carrasco a caneta de Almada Negreiros, pois que se acabe com esta brincadeira de mau gosto pelo verso também!

 

Cheira-me a manifesto revolucionário!…

Este é o meu grito de revolta,
não aguento mais:
casamentos, aniversários, regabofes – basta!
Morte ao Taittinger.

Todas estas celebrações
culminam fatalmente com o clássico
brinde de champanhe…
Não mais Dom Pérignon.

Esquecem-se, os rudes anfitriões,
que entre os convidados, assim como eu,
há gente com um nariz enorme!
Fora com o Veuve Cliequot Ponsardin.

Um pencudo, por mais que tente,
não consegue beber de um copo de champanhe,
que são tão estreitinhos na ponta!
Basta de Moët & Chandom Brut.

Nós que bem podíamos ser acusados
de ter roubado o nariz da Esfinge,
à hora do brinde, sentimo-nos excluídos…
Pelo fim do infame recipiente e deste tremendo flagelo.

Por um Mundo com copos
que respeitem as pencas de grande porte!
Pelo direito de não mais ver descriminado
o meu extensíssimo órgão olfactivo!

Avante,
camaradas!
Venceremos,
cheira-me!…

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