Artigo de Opinião

O PORTO TRABALHA, E LISBOA… VOA?

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“Se a TAP é uma companhia de bandeira, a transportadora aérea nacional, não deveria estar essa própria companhia, não ao serviço do privado, mas do interesse público? Será do interesse público centralizar o serviço aéreo em Lisboa? E se sim, porquê?”

A TAP (para que fique bem patente: Transportes Aéreos PORTUGUESES) é sem dúvida alguma uma das companhias aéreas mais conceituadas e respeitadas na Europa e nos países lusófonos, com os quais tem uma relação privilegiada. Ou melhor, era… O que agora vemos espelhado na política que está a ser assumida pelo Governo Português é um baixar de nível enorme, e isso vai ser refletido no desempenho da empresa.

Antes de analisarmos a questão dos voos da TAP, temos que, primeiramente, analisar a questão da TAP. Logo aí se levantam imensas questões, nomeadamente, se 50% do capital é do Estado Português, mas a gestão é privada, não é isto mais uma parceria público-privada? Se a TAP é uma companhia de bandeira, a transportadora aérea nacional, não deveria estar essa própria companhia, não ao serviço do privado, mas do interesse público? Será do interesse público centralizar o serviço aéreo em Lisboa? E se sim, porquê?

Quando introduzimos a temática do serviço público estamos a complicar as coisas. Sendo uma transportadora aérea nacional é de esperar que servisse de igual forma, ou pelo menos tentasse (ou, pelo menos, fingisse que tentasse), todo o território nacional. Quando olhamos para a realidade, o que vemos é que a TAP não serve o resto do país, serve Lisboa. Bem explícito na estratégia da empresa é a concentração dos voos em Lisboa, não sendo por isso uma transportadora aérea nacional, mas sim regional. O Metro do Porto serve a Região Metropolitana do Porto; o Metro de Lisboa, a de Lisboa, mas nenhum dos dois se chama Metro de Portugal. Para quando a mudança do nome de Transportes Aéreos Portugueses para Transportes Aéreos Lisboetas? Antes de terminarmos com a questão da TAP é necessário analisar o porquê da centralização de serviços em Lisboa.

O que se passa já há algum tempo é que os voos da TAP, fruto da concorrência, têm vindo a perder passageiros, principalmente os voos de longo curso para o Brasil. Ora, como é que artificialmente se aumenta o número de passageiros num aeroporto? A resposta é simples: escalas. Imagine-se que eu quero ir do Porto para Frankfurt, e, por algum motivo, prefiro viajar na TAP. O voo tem escala em Lisboa, porque o hub da TAP é lá. A contabilização de passageiros que é feita é a seguinte: entrou um passageiro no Porto e saiu um de Lisboa, entrou outro passageiro em Lisboa e saiu um em Frankfurt. Mais dois transeuntes artificiais para aquele aeroporto que na realidade só estavam de passagem. Na realidade é como se tivesse ficado em Lisboa e entrado mais uma pessoa para Frankfurt. Estão a ver como é que se alteram números muito facilmente?

Em Lisboa, diz-se que é necessário um novo aeroporto porque o que existe não é suficiente para a capacidade da cidade e para o tráfego aéreo aí realizado. Se retirarmos todas as escalas que são feitas, só pela existência do hub da TAP, serão assim tantos que se justifique um novo aeroporto?

Passando agora à questão dos voos. Quando, obviamente, o Presidente da Mui Nobre, Sempre Leal e Invicta Cidade do Porto fala num desserviço à cidade do Porto, fala claramente num desserviço à região Norte que, apesar de ter 3,7 milhões de habitantes, 2,5 dos quais eleitores, 45% das exportações deste país, um aeroporto que é constantemente classificado, tanto pelos utilizadores como pela imprensa de especialidade como um dos melhores (senão o melhor) aeroporto no seu segmento, uma ocupação média de 90% dos voos a suprimir, é vista como o parente pobre do país, sendo realmente o parente que trabalha. Já diz a sabedoria popular: “O Porto trabalha, Braga reza, Coimbra estuda e Lisboa gasta.”

Uma das coisas que mais me espanta na complexidade deste processo todo é o facto de apenas o Dr. Rui Moreira vocalizar e projetar toda a sua preocupação com este caso. Onde estão os autarcas da Região Norte? Eu pago impostos e com esses impostos o vosso salário! Ninguém vos paga para ficarem calados. Se isto é um problema que afeta o desenvolvimento harmonioso deste país e em especial do Norte, do qual sou habitante e natural, se as pessoas estão preocupadas, porque enorme carga de água é que vocês piam fino? Vergonha!

1 Comment

  1. Anónimo

    20/04/2016 at 16:27

    Muito bom o artigo 😉

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