Artigo de Opinião

A INVISIBILIDADE GROSSEIRA DOS ENFERMEIROS

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É evidente que os enfermeiros, forçosamente percecionados pela sociedade como tendo menos poder e menos importância, são preteridos em relação a médicos, investigadores e farmacêuticos, cognominadas fontes com mais prestígio social, mais conhecimentos científicos e com maior notoriedade pública.

Parece-me, no entanto, que esta discriminação mediática dos enfermeiros estende-se também  às incompatibilidades no exercício da profissão com a titularidade de alguns cargos e atividades. Por outras palavras, são inequívocas as restrições, visivelmente em maior escala, dos enfermeiros quando comparadas com as restrições dos médicos.

Ora vejamos: se for enfermeiro, não pode acumular o exercício da profissão com o de proprietário de agência funerária ou de laboratório de análises clínicas, de preparação de produtos farmacêuticos ou de equipamentos técnicos sanitários. Esta proibição aplica-se, ainda, ao caso dos farmacêuticos, técnicos de farmácia ou proprietários de farmácia ou dos delegados de informação médica e de comercialização de produtos médicos, ou sócios ou gerentes de empresas com essa atividade.

Adicionalmente, são consideradas também pela Ordem dos Enfermeiros quaisquer outras profissões que, por lei, sejam incompatíveis com o exercício da enfermagem como, a título de exemplo, a profissão de distribuidor da Herbalife – empresa multinacional de nutrição, controlo de peso e nutrição externa. O exercício da profissão de psicólogo, por exemplo, não é incompatível com a de enfermeiro. Contudo, em termos éticos, o exercício cumulativo das duas profissões é censurável e deverá ser desaprovado. Em contrapartida, para a Ordem dos Médicos, as únicas incompatibilidades visíveis são o exercício cumulativo das profissões de médico e farmacêutico e das profissões de médico e enfermeiro.

Estou em crer que há grande desproporção de parte a parte no que diz respeito à independência, à isenção do exercício da profissão e, consequentemente, à salvaguarda da imparcialidade e da transparência na atuação profissional das duas profissões. Dito de outro modo, a possibilidade de obtenção de proveitos indiretos da cumulação de duas profissões é bem maior no caso dos médicos que, mais uma vez, são mais privilegiados do que os enfermeiros.

Assim, ciente de que nem sempre domino determinados temas que reporto com a profundidade necessária, mas reconhecendo a pouca repercussão que os enfermeiros tem nas notícias de saúde publicadas nos jornais nacionais, creio que seja desejo desta classe profissional, inserida numa zona de obscuridade, um tratamento menos desigual e mais uniformizado, quando comparada com outras classes na área da saúde.

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