Artigo de Opinião

UNIVERSIDADE DO PORTO ESCREVE-SE COM MINÚSCULAS

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O mandato de Sebastião Feyo de Azevedo aos comandos da Universidade do Porto tem sido pautado por alguma vontade de inovar e de melhorar aquela que é, para muitos, a melhor universidade portuguesa. Ressalva feita, importa dizer que há pequenas coisas que constituem grandes entraves ao progresso desta universidade, e que tardam em ser corrigidas.

Começo por uma situação que me afetou, e revelo-o, desde já, para que o meu viés esteja bem sinalizado. Há, nesta universidade, um limite anual de 75 ECTS, os vulgares créditos, aos quais um estudante se pode inscrever, sendo que um ano de um curso representa 60 ECTS. O que acontece se um estudante desejar fazer dois cursos em simultâneo? Paga duas propinas, mas o limite de ECTS mantém-se. Pior do que a limitação, só a justificação que me deram quando indaguei acerca dela junto dos serviços da Reitoria: esta medida visa proteger os estudantes da prescrição. Para além de um paternalismo ridículo, desvia estudantes interessados para outras universidades e impede que haja um verdadeiro clima de partilha do conhecimento. Os limites que impedem a conclusão de vários cursos simultaneamente são cognitivos e emocionais, e cada um tem os seus – não faz sentido que seja a reitoria a impô-los, sobretudo quando a fasquia é tão limitada.

Tudo isto se encadeia, se repararmos. A mentalidade é a mesma para a inscrição em unidades curriculares individuais. Queres inscrever-te, pagas, que o conhecimento é um bem menor quando comparado com orçamentos e burocracias. A Universidade de Aveiro vê bastante mais longe e criou hipóteses de alargar o leque de conhecimentos de qualquer estudante a tempo inteiro. No seu site podemos ler a seguinte regra: “Os estudantes da Universidade de Aveiro inscritos em regime de tempo integral poderão inscrever-se e frequentar, sem custos acrescidos, em cada ano letivo, até duas disciplinas que não integrem o plano de estudos do respetivo curso nem o elenco de disciplinas de opção do mesmo, na modalidade de unidades curriculares isoladas.” Onde estão medidas semelhantes na Universidade do Porto? Não reclamo sequer que o processo seja gratuito, já seria bom se a burocracia excessiva fosse eliminada e fosse possível a inscrição acima de 75 ECTS.

O paradigma é tão mau que acontecem coisas como a que escandalizou um colega meu, que foi expulso de uma biblioteca de uma faculdade da sua própria universidade quando lá existiam (ele contou-os antes de sair) 76 lugares livres, sob o pretexto de que os lugares daquela biblioteca são para os estudantes da faculdade que a gere. Onde está a Universidade, então? É só um nome pomposo que serve para nos referirmos ao conjunto das faculdades? Na minha inocência, sempre pensei que uma universidade é um local onde o conhecimento, ao invés de ser compartimentalizado, é impulsionado e circula livremente.

Neste mandato foi criado um observatório do emprego, medida que vejo com muito bons olhos. Já que assim é, atentem às tendências daquilo que será o mercado de trabalho no século XXI, e vejam se a universidade está preparada. Cada vez mais, temos o espírito do empreendedorismo e da multidisciplinaridade a percorrer todas as áreas. O super-especialista, tendência do final do século XX, está já ultrapassado, e surge agora um espírito novo, que olha para diferentes saberes e tenta encontrar pontos de articulação e fusão. Se o estudante da UP continua a fazer o seu curso de forma linear, sem ramificações, sem acesso a outros pontos de vista, a outros vocabulários, como pode a Reitoria esperar que os seus estudantes tenham sucesso no mercado de trabalho do século XXI? É altura de deixar o espírito Schengen (o inicial, não o atual) impregnar a UP, e cabe à Reitoria impulsionar a livre circulação de pessoas e daquele que é o maior bem, o conhecimento.

Por fim, faço um mea culpa coletivo. Cabe aos estudantes perceber que a situação está longe de ser a ideal e de, através dos seus representantes nos órgãos da universidade e das suas faculdades, exigirem uma mudança do paradigma. Dou este primeiro passo – se, por acaso, o Sr. Reitor estiver a ler isto, reflita acerca desta questão. Adorava poder concluir na Universidade do Porto o curso de filosofia que fui fazer para a Universidade do Minho por ser demasiado ambicioso para as limitações burocráticas da UP.

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