Artigo de Opinião

AS MULHERES MERECEM MAIS

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À conta do Bloco de Esquerda levou-se, recentemente, a luta pela igualdade de género para o patamar do ridículo. Esta é, sem dúvida, uma luta digna e mais que justa. Aliás, em pleno século XXI, não devia ser sequer uma questão que merecesse debate ou qualquer tipo de ação. Não compreender que não é o género que dá a competência ou que faz com que haja, como que por obrigação ou divina naturalidade, maior sobrecarga de trabalho sobre determinado género é não compreender o básico.

Nascemos todos de um espermatozóide e de um óvulo. E não há nem espermatozóide nem óvulo, naturalmente superior ou melhor que qualquer outro. Somos todos iguais. Reduzir a luta pela igualdade de género ao Cartão de Cidadão é, esse sim, um ato que desprestigia, diminui e desqualifica a verdadeira luta que devemos travar.

Em primeiro lugar, é preciso haver alteração de mentalidades. Não se compreende que, numa país dito desenvolvido como o nosso, continue a haver discrepâncias salariais entre homens e mulheres que ocupam o mesmo posto e têm as mesmas funções. As mulheres continuam a ser vistas como as cuidadoras da casa e dos filhos por natureza e a única tarefa caseira que compete aos homens é a luta pelo recorde mundial de tempo sentado no sofá. É incompreensível que se continue a pressionar as mulheres no seu trabalho para não engravidarem, ou que percam os seus postos de trabalho quando isso acontece. Não se entende que as empresas que no Dia da Mulher as defendem com toda a convicção sejam as mesmas que as exploram durante todos os restantes dias do ano, ou que não as promovam, em detrimento dos homens, mesmo que apresentem mais resultados no exercício das mesmas tarefas.

A sério que mesmo com todos estes problemas a grande luta do Bloco de Esquerda se resume a um simples nome? As mulheres e todos nós, que estamos conscientes que estas discrepâncias não têm lugar no século XXI, agradecemos todas as iniciativas legislativas que visem promover a igualdade e acabar com estas questões, que mais que culturais, em alguns casos, roçam o aberrante.

Mas também não podemos impingir. Fala-se que as empresas públicas poderão vir a ter que ter cotas mínimas de mulheres nos seus quadros. Esta luta não se ganha superiorizando uma obrigação, ao real valor humano, académico e às competências de cada um. Tenho a certeza que qualquer mulher, bem como qualquer homem, gosta de singrar pelo seu valor e pela competência que demonstra no desempenho das suas funções. Uma mulher não é obrigação. Uma mulher é valor humano que dá de si ao mundo, todos os dias. E é ai que reside o seu valor. Na sua capacidade de gerar, a cada dia que passa, seja na sua vida particular ou no seu trabalho, um mundo melhor e há que reconhecê-lo.

Temos muito que crescer no que à igualdade de género diz respeito, mas antes, parece-me que temos que compreender que a dignidade das mulheres não pode ser diminuída nem descaracterizada por medidas que são alvo de chacota generalizada. O que o Bloco de Esquerda fez foi colocar a verdadeira luta das mulheres e o seu verdadeiro valor humano ao nível do zero. As mulheres não são números nem políticas avulsas. São gente de valor, que merece ver reconhecido, por parte de todos nós, mesmo no dia-a-dia e nos pequenos atos, o seu mérito.

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