Artigo de Opinião

À CALOIRA QUE NÃO FUI

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Querida Catarina,

 

Estás em setembro de 2015, porém, estou a escrever-te de maio de 2016, fazendo uma pausa da pilha de trabalhos que tenho para despachar. Chegaste agora à faculdade e devo advertir-te que o caminho não vai ser fácil quando olhares em retrospetiva todo o teu primeiro ano no Porto. Passadas as festividades da semana académica, ou até durante as mesmas, vais acabar por fazer uma reflexão sobre a tua experiência como universitária. Vais sentir-te sozinha e questionar-te imenso, mas isso faz parte. Vai-te ser difícil pensar como chegaste até aqui a ser uma caloira sem “Academia”, que chegou ao Porto sem qualquer pretensão de pôr sequer os pés na praxe — basta pensares que foi a tua mãe que, literalmente, te obrigou a ir à primeira sessão — ou até mesmo de comprar um traje, sob o pretexto de achares que seria deitar dinheiro fora, porque, depois do curso, não vias utilidade para o mesmo. Contudo, isso foi só até descobrires que o traje da tua irmã te servia que nem uma luva da cabeça aos pés e decidires que ias procurar uma maneira de o fazer valer.

 

A verdade é que, tal como já mencionei antes, não encontraste a tua “Academia” na praxe. Sempre que te perguntarem, vais dizer a todos que não saíste por ter odiado a breve experiência que lá tiveste. Afinal, vais ser a primeira a dizer que sabias quem terias escolhido para madrinha se realmente tivesses continuado. No entanto, vais sentir que aquilo não é para ti e não há problema nisso: nem toda a gente tem de gostar da praxe por muito que ache que os doutores são um máximo. Vais questionar-te imensas vezes se te arrependeste ou não por não ter continuado, especialmente porque a tua mãe e irmã mais velha – acérrimas defensoras de que os amigos para a vida se fazem por lá – vão passar um ano a salientar o quão diferente és de toda a gente, que não sabes aproveitar o que a faculdade tem de melhor. Mas isso não é, de todo, necessariamente verdade. Relaxa: garanto-te que vais encontrar amigos que certamente serão para a vida, vais sair tantas vezes quantas te apetecer e vais conhecer gente incrível, porque a faculdade é mesmo assim.

 

Mas, no meio disto tudo, estou a esquecer-me de que, de facto, encontrarás “uma razão para trajar” noutro lado: numa tuna feminina incrível que te acolheu extremamente bem. Vais adorar, garanto-te. Cada momento, cada ensaio, cada saída à rua, cada festival, cada uma delas. E escusado será dizer que, durante este percurso, o orgulho em usar o traje crescerá em ti. Conhecerás pessoas de todo o país e vais até deixar alguns amigos pelo caminho. Serás conhecida como “a caloira que não bebe”. Mas desde quando é que isso tem algum mal? Vais sorrir muito, acredita. A má notícia é que, infelizmente, por razões que escaparão ao teu controlo, vais ter de abandonar a tuna — mas isso não te vai impedir de estar sempre a cantar as músicas do repertório que mais gostavas de cada vez que arrumares o quarto.

 

À medida que o tempo for passando, quando ouvires as tuas amigas que estudam em Coimbra – ou noutro lado qualquer – a falar sobre a relação que criaram com as pessoas da praxe (caloiros e doutores incluídos), vais sentir um misto de confusão com um aperto no coração. Não tens aquele tipo de relação com a maior parte dos teus colegas, mas, ao mesmo tempo, não percebes como podem gostar tanto de alguém que, na tua opinião, os subjuga. Nestes momentos, uma parte de ti dir-te-á que devias ter experimentado e a outra perguntar-te-á se não gostas das pessoas que agora fazem parte do teu círculo de amigos, aquelas que vais conhecer independentemente da praxe e de toda a vida académica. E aí tenho a certeza que irás responder com um grande sorriso nos lábios: “Não trocava tudo isto por nada deste mundo!”.

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