Artigo de Opinião
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO PORTUGUÊS
Hoje, 10 de Junho, – dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas – é o dia mais indicado para fazermos uma reflexão acerca do que é Portugal nos dias de hoje. O quanto avançamos, ou retrocedemos, a que dedicamos a nossa mente coletiva enquanto portugueses, o que de facto nos torna portugueses. Pensemos um pouco. Será que mudamos assim tanto desde o 25 de abril? Será que a essência de ser português mudou? Podemos pensar que sim, podemos mesmo argumentar que sim, mas a verdade vem sempre ao de cima. Somos iguais, com mais ou menos liberdade – dependendo da corrente filosófica que adotarmos –, pensamos de maneira igual e temos os mesmos ideais que as gerações passadas. Somos ainda o país do Fado, Fátima, Futebol e Família.
Analisemos. Quanto ao Fado, não há muito a explicar. Apesar de ser proveniente de Lisboa e Coimbra, toca-se em todo o lado, e ai de quem não gostar de fado! Até já se canta nos festivais de Verão – como no ano passado quando a Ana Moura atuou no Marés Vivas – e até já há festivais dedicados a este tipo de música, entre os quais o Festival Caixa Ribeira e Caixa Alfama, que não merecia ter o mesmo tratamento de música pop rasca. O Fado é suposto ser íntimo, pelo menos na minha opinião, e não misturado com outros estilos de música. Também é Património Imaterial da Humanidade. Português gosta de Fado, mesmo que secretamente o odeie.
A situação de Fátima é um bocadinho mais preocupante. Portugal é, no papel pelo menos, um país laico, laicíssimo, que só quer ver religiões por um canudo e, mesmo assim, ao longe. No entanto, uma das primeiras visitas oficiais que o nosso ‘novo’ Presidente da República fez foi exatamente ao Vaticano, para beijar o anel do Pescador, presente nas mãos de Sua Santidade, o Papa Francisco. Quem ler isto até parece que o Estado anda a financiar a construção de igrejas, catedrais e basílicas um pouco por todo o país. Estaria errado, porque apenas está a financiar a construção de uma nova mesquita em Lisboa, na Mouraria para ser mais preciso. Laicos, somos laicos. Somos tão laicos que até chegamos a ser católicos não praticantes – seja lá o que raio isso for – nos censos, só mesmo porque temos aversão à palavra ‘ateu’. Mas sejamos sinceros, um agnóstico é um ateu em negação, é um ateu cobarde. Ateísmo? O quê? Eu vou para o céu para o lado dos meus pais, avós, primos, tios, sobrinho e do meu cão – que aparentemente também vão para o Céu os pobres dos bichos que nem noção que são católicos, nem respondem aos censos, nem são batizados, mas hão-de ir lá ter. Português tem que ter religião, quanto mais não seja o clube.
O que nos leva a falar do Futebol. Não preciso de elaborar muito. O Europeu começa hoje. É desta caraças! A abertura até calha no Dia de Portugal e tudo, e qualquer momento é razão para uma entrevista ao Ronaldo, ao filho do Ronaldo, à mãe do Ronaldo, ao Éder, ao Quaresma, às idas à casa de banho de qualquer membro da seleção, do que eles comeram ao pequeno-almoço, ao almoço, ao lanche, ao jantar. Este país vive obcecado com Futebol. Não mudamos nada. Português tem que gostar de futebol, tem que pintar a cara de verde e vermelho quando joga a seleção e tem que ir para a Praça D. João I berrar sempre que o Ronaldo mudar de penteado a meio do jogo.
E, por fim, Família. Ainda bem que não mudamos nada. Somos o país de ir almoçar ao domingo a casa dos pais. De ter os avós a cuidar das crianças. De ir com a família toda para a praia e levar uma panela de feijoada e partilhar com quem mais queira. Somo o país onde amigos são família.
Se mudamos? Claro que sim! Podemos nem ter mudado muito, mas aquilo que era bom ficou. E não é isso que resume o que é ser português? “O que é bom, fica.”
Para celebrar este dia que é de Portugal, fiquemos com o mais belo hino nacional do mundo, só porque é nosso. Feliz Dia de Portugal!