Artigo de Opinião

PERCAM DEPRESSA, PARA VOLTARMOS A COISAS SÉRIAS

Published

on

Os torneios passam e ninguém aprende. Mais uma vez, um ambiente de euforia desenfreada por causa da seleção nacional de futebol. Somando todos os diretos, todas as reportagens, todas as efemérides que circundam os 23 derrotados crónicos que a Federação levou a França, temos gasto semanas inteiras com este assunto. Não haverá mais nada neste mundo? Será assim tão importante saber os hábitos de higiene pessoal do rapaz que entrega as toalhas no balneário que vai receber a seleção? Alguém quer saber?

O problema é precisamente esse – todos querem saber, e os media esfregam as mãos de contentes ao perceberem que têm mais dois meses de audiências fáceis pela frente. Desde o início de maio que entramos num crescente de exposição mediática relativamente a este tópico. À data, a seleção só jogou 180 minutos, só marcou um golo, só conseguiu 2 pontos, mas já leva mais minutos de reportagem do que todos os outros desportos portugueses nos últimos anos somados. O país está parado à espera de um desfecho que, mais uma vez, parece vir a ser extremamente negativo.

Enquanto o povo está anestesiado, o mundo avança. Um fascista milionário luta pela presidência dos Estados Unidos (que tem como brinde o controlo do maior arsenal nuclear do mundo), eleições cruciais para o futuro de Espanha estão a uma semana de distância, o Reino Unido está prestes a dar uma machadada no futuro da União Europeia, mas nada disso importa, porque há suspeitas de que o Quaresma tem uma mialgia, palavra que ninguém compreende mas que, subitamente, invade as conversas de qualquer café. Seremos assim tão ignorantes e estúpidos? Chamo-nos estúpidos, porque não pode haver outro nome para um povo que tem taxas de abstenção elevadíssimas quando se trata de definir o futuro do país mas que se gaba de “sermos 11 milhões” a apoiar uns jovens a jogar à bola que nem sequer trazem resultados.

Esta opinião não muda consoante os resultados da seleção, até porque não estou aqui a fazer uma crítica às celebrações. Se houvesse reportagens especiais durante dias depois de a seleção ganhar o Europeu, eu até entendia. Era motivo de orgulho para muitos portugueses, era um exemplo de sucesso para o nosso país, eternamente em dificuldades. Não entendo porque temos sempre de fazer a figura de Golias, celebrando vitórias por antecipação e gritando “injustiça” quando as nossas expectativas foram defraudadas uma e outra vez. Vamos deixar de estar todos a gritar quando o autocarro vai para o jogo e guardar os gritos para quando ele volta com a vitória. Vamos evitar situações como a renovação de contrato com o Paulo Bento dias antes de ele conduzir a seleção a um abismo humilhante. Desde o D. Sebastião que temos apetência para estas repetições desnecessárias de Alcácer Quibir, sem prevermos o desastre que vai daí advir.

Não tenho nada contra o desporto, antes pelo contrário. É uma força de coesão social importantíssima e pessoalmente vibro com muitos desportos diferentes, incluindo com o futebol. Trata-se de ter o bom senso necessário para perceber que o desporto, fonte de muitas alegrias e tristezas, motor de milhões de euros, está no topo da pirâmide de Maslow, e não na base. Se não conseguem compreender, há uma forma muito simples: basta procurar no dicionário a diferença entre “alegria” ou “felicidade” e “histeria” ou “loucura”.

Leave a Reply

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Exit mobile version