Artigo de Opinião
O DIA DEPOIS DO FIM DA DEMOCRACIA
Fui para a cama já bastante tarde, mas já depois dos primeiros estados começarem a ser contabilizados. Estava com o site do New York Times (um dos meus jornais favoritos) aberto na parte dos mapas, e das previsões. Davam 85% de probabilidade de vitória a Hillary Clinton. Fui dormir confiante na vitória da inteligência sobre a ignorância. Fui dormir tranquilo.
Acordei. A primeira coisa que fiz foi abrir o computador e fazer o refresh à página inicial do The New York Times. Fiquei 5 minutos (à vontade) a olhar incrédulo para o mapa que se tinha como azul, que afinal era vermelho. A vitória pertencia aos Republicanos. Levantei-me e abri a janela, o dia era cinzento, mas não chovia. Não soube bem como reagir, parecia um pesadelo. Era um pesadelo. É um pesadelo.
Como pode um homem que, na sua apresentação de candidatura às primárias republicanas, disse que todos os emigrantes mexicanos era violadores, homicidas… Um homem que não pagou impostos sobre o rendimento durante 18 anos… Um homem que se gabou de poder agarrar mulheres by the pussy porque era famoso… Um homem que disse que se a Ivanka Trump não fosse sua filha, provavelmente iria sair com ela. Um homem que propôs deportar milhões de pessoas só porque são muçulmanas… Um homem que não tira da mesa a hipótese de usar armas nucleares na Europa… ter sido eleito para o cargo mais importante do que outrora foi o país mais importante do mundo?
Saí do duche ainda incrédulo. As lágrimas eram disfarçadas pela água que caía. Temi pela vida de amigos meus que vivem lá, que por serem gays estão a ser ameaçados agora diretamente pelo presidente que deveria zelar pela totalidade da população, e pelo seu vice-presidente, que acredita que é possível curar a homossexualidade como se de uma doença se tratasse.
Desci para tomar o pequeno almoço, mas encontrei-me sem fome devido ao estômago cheio de raiva, tristeza, medo… Fui ao piano e toquei o hino dos Estados Unidos. Voltei a chorar. “For the land of the free, and the Home of the brave”… Será mesmo? Serão eles agora livres e corajosos?
No final do dia venceu o medo, o populismo, a xenofobia, a homofobia, o sexismo e o machismo. Viu-se o triunfo das opiniões sobre os factos. Agora estou mais calmo, mas nem nos próximos quatro anos me tiram do estado de medo em que me encontro atualmente.