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Artigo de Opinião

MAKE AMERICA AFRAID AGAIN

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Acordei agitada no dia 9 de novembro. No facebook choviam notícias que contavam uma realidade para a qual grande parte de nós não estava preparada: Donald Trump tinha sido eleito o presidente dos Estados Unidos da América. Sim, o homem que durante a sua vida foi mostrando ser xenófobo, homofóbico e misógino tinha sido escolhido para representar um país que se dizia tão livre, com tanta cor, e com espaço para poder sonhar. Afinal a América não era assim tão inclusiva, tão receptiva à multiculturalidade. Afinal a América só queria ter três cores: azul, branco e vermelho.

Os comentários que vi no facebook deixaram-me triste, sem esperança na aliança que devíamos ter como cidadãos no Mundo; “isso é lá na América, não há problema connosco”, diziam eles. Mas desde quando é que os problemas da maior potência Mundial não são problemas de todos os países? Mas desde quando é que o sofrimento dos outros não é o nosso sofrimento? Falta-nos sensibilidade, falta-nos a audácia de nos conseguirmos pôr no lugar do outro – do imigrante, do homossexual, do cigano, da mulher. Falta-vos a vocês, América, a perspicácia para entender que sem eles vocês não são nada.

Assisti ao discurso do Trump (perdoem-me, mas não consigo sequer chamar-lhe de presidente) horas mais tarde. Estava mais calmo, sem frases carregadas de ódio, mas também já não precisava. O incêndio que Donald Trump causou já não consegue ser extinto. As palavras têm uma força indomável e o pânico já está instalado. Há uma força nas palavras de Trump que me assusta, mas há uma força maior nas atitudes de quem o segue que me assusta ainda mais. Não tardou para um hijab ter sido puxado à força da cabeça de uma muçulmana no supermercado, para uma mulher ser assediada “porque o presidente assim o permite”, para um grupo de hispânicos ter sido espancado numa bomba de gasolina, para dois transexuais se suicidarem com medo de viver num país que era seu, mas que não os respeita. E é assim que apenas num dia a América consegue recuar: passando da procura pela igualdade de Barack Obama para a exclusão social de Trump.

Hoje, América, estou de luto por ti. Nos próximos quatro anos, América, estarei de luto por ti. Estarei de luto por não teres conseguido ler os sinais da História e não perceberes o que poderia acontecer a seguir. Estarei de luto por a sede do sucesso e a ilusão do poder económico te terem cegado. Nos próximos quatro anos, América, estarei de luto porque não serás grande de novo, estarás apenas assustada e  “não será o fim do mundo, mas será tarde de mais”.