Artigo de Opinião
CRISE UCRANIANA: UM AVISO PARA TODA A EUROPA?
Nada nos últimos meses, talvez nem nos últimos anos, tem tido o impacto mediático e político que a crise que assola a Ucrânia. Independentemente das razões e dos ideais defendidos pelos vários intervenientes, uma questão emerge acima desta crise: será a Ucrânia um espelho do futuro da Europa?
É necessário reflectir um pouco sobre a história da Ucrânia para compreender melhor as várias razões e as implicações desta crise para o resto do mundo. Oficialmente, a Ucrânia é um país jovem, com pouco mais de 20 anos. A sua independência enquanto território foi uma consequência direta do final da Guerra Fria e da URSS. Anteriormente a isto, o que hoje se considera o território ucraniano, foi pertença de várias comunidades que dominaram a região, especialmente polacos e lituanos.
Culturalmente falando, a Ucrânia sofre de um problema semelhante à região dos Balcãs: é uma mistura de povos. Os séculos de constantes migrações de povos na região (especialmente de russos) levaram a uma cultura diversificada e, ao mesmo tempo, pouco unificada.
Nada disto se assumiria como um problema ou um dado particularmente novo: a região leste da Europa está marcada de clivagens culturais e de problemas que daí advêm. Contudo, no final do ano passado, o regime democrático ucraniano tomou uma decisão que provocou uma clivagem na população demasiado grande para ser contornada: ao recusar um acordo para a entrada do país na União Europeia, o presidente ucraniano Viktor Yanukovych provocou uma onda de protestos e manifestações que foram ganho cada vez maior dimensão. A aprovação de leis anti protesto, no que pode ser considerado uma clara medida antidemocrática, acabou por ser demasiado: a Ucrânia, como todos podemos assistir nos media por todo o mundo entrou em guerra civil. O seu presidente foi demitido. Tornou-se um país sem rumo, um barco sem capitão e com muito pouca lei. Ou capacidade de a fazer cumprir.
Mais importante que o papel da Rússia, da União Europeia ou dos Estados Unidos (cada um com os seus interesses próprios em mente) no futuro da Ucrânia – ou na ausência dele – esta crise política e civil fez-me pensar se não é este o futuro para o qual nós, Europa, caminhamos a passos largos. Países devastados por uma crise económica sem solução à vista – que o digamos nós portugueses que não sabemos sequer ao certo o futuro do nosso país –, uma união monetária sem um verdadeiro espírito de união e dominada pelo grande poder central dos Alemães, no fundo, um barco que, ao contrário do ucraniano, tem demasiados capitais que não se entendem para o levar a bom porto.
Talvez seja um pouco extremista afirmar que a Ucrânia é um espelho do futuro da Europa. Talvez mais nenhum país passe por uma guerra civil, talvez mais nenhum governo caia. Mas a história ensina-nos que a solução das crises dos regimes liberais (como o da Ucrânia, como o de Portugal e dos mais países europeus) passa muitas vezes por períodos de repressão de liberdade e de governos ditatoriais.
Esperemos que a história não se repita. Nem para os Ucranianos, nem para mais nenhum de nós.
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