Artigo de Opinião

CORRER (COM O PADRE)

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Há uns dias surgiu na comunicação social a notícia que os alunos do Colégio de Gaia foram proibidos, numa ordem assinada e publicada pelo diretor do Colégio, o Pe. António Barbosa, de correr no estabelecimento de ensino que frequentam. De um modo geral, tudo o que foi dito acerca do assunto foi que se tratava de uma manobra ditatorial deliberadamente desenhada para restringir a liberdade dos alunos, mas ninguém trata do assunto como um todo, e é isso que vamos analisar aqui.

Para já, é necessário contextualizar tanto a situação como a própria instituição. O Colégio de Gaia é uma instituição de ensino privado (é importante salientar este ponto) que funciona em regime cooperativo, no caso do ensino secundário, fornecendo uma vasta panóplia de cursos cientifico-tecnológicos que conferem ao aluno competências profissionais de nível 4, segundo o Quadro Nacional de Qualificações (1). Apesar de tudo, o Colégio de Gaia é uma instituição de ensino que pertence à Igreja Católica Portuguesa, nomeadamente à Diocese do Porto, e, sendo o seu Diretor nomeado pelo Bispo do Porto (o atual diretor foi nomeado a 25 de Julho de 2014 (2), pelo atual Bispo do Porto.), é natural que o Código de Conduta do Colégio se paute por princípios e ideais católicos, e ainda mais especificamente pela Doutrina Social da Igreja (3), mesmo no que diz respeito ao vestuário autorizado e não autorizado dentro do Colégio.

Voltemos à questão da interdição dos alunos correrem nos corredores. Para quem não sabe, o Colégio de Gaia foi fundado em 1933 e as instalações mais recentes são da década de 60 e 70 (4), portanto tratam-se de instalações já com alguma idade, facto que se pode refletir na segurança dos alunos que frequentam o colégio diariamente. Já o meu pai, enquanto aluno, se queixava das escadas gastas do colégio, fruto de milhares de alunos que por lá passaram. Agora imaginem mais alguns milhões de passos em cima com o decorrer dos anos. Não me interpretem mal, as instalações do colégio são excelentes, mas nada é sem defeito, especialmente quando o defeito é exacerbado pela pressa de chegar à cantina primeiro que os outros.

Deixemos algo claro: a lei surge da necessidade de regular o que deveria ser bom e comum senso. Se para algumas pessoas não é necessário explicar e explicitar a alunos do ensino básico e secundário que não se deve correr nos corredores (apesar do nome, mas isso já é algo que a criação de léxico portuguesa descurou),  é preciso, ainda, explicar que, quando as pessoas correm, acidentes acontecem, e é para evitar esses acidentes que as regras são criadas.

Sabem qual é o problema real? É que o senso comum não é assim tão comum quanto isso, especialmente em alunos que se esperaria já terem cabeça para não correr nos corredores em que convivem pupilos do 1º ano até ao 12º ano. Trata-se de melhorar as condições de habitabilidade entre todos e de melhorar o funcionamento da instituição.

Além disso, temos que salientar que a função do colégio não é exclusivamente educar para o conhecimento e sabedoria, mas também de fomentar o desenvolvimento da cidadania dos alunos, tarefa que é muitas vezes esquecida pelas instituições de ensino. Porque não chega serem bons profissionais. Num colégio católico têm que ser também boas pessoas.

Aos alunos que protestaram contra a medida, e aos encarregados de educação que vieram à comunicação social dizer que era uma medida demasiado restritiva, espero apenas que não tenham o infortúnio de cair, ou do seu encarregando cair, vez nenhuma no colégio. Até lá, andem, porque correr é muito pouco cool.

Links consultados a 9 de Janeiro de 2017

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