Artigo de Opinião

A FESTA DA VIDA

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Carina Dias

Chegou o Verão, chegam as romarias e com elas um todo admirável de valores tradicionais, que tornam os portugueses uma população tão característica e diferente.

Quando chega a esta altura, começa-se a ouvir os comentários alegóricos de que os portugueses só sabem comer, beber e fazer nenhum. Porém, isto trata-se de uma generalização apressada. Existem estes casos típicos e que retratam esta imagem que pintamos da população portuguesa, mas se considerarmos bem, as romarias suportam consigo uma carga positiva que influencia terminantemente todos aqueles que as frequentam.

Em primeiro lugar, aquilo que é basilar para mim é a família e todo o vínculo corporal e espiritual que se celebra entre os membros de cada família e entre as próprias famílias. Um exemplo expressivo disto são os famosos picnics, que parecem algo que só os nossos avós fazem e gostam, mas são uma fonte vitalidade para a família. Ao observarmos um picnic, constatamos que as pessoas riem-se, abraçam-se, partilham, dividem e conversam. Parece que todos aqueles princípios pelos quais uma família se deve reger estão lá presentes. Todos os elementos têm como objetivo comum, tornar aquele instante o mais agradável possível. É como se todos os problemas desaparecessem, pois conferimos que temos ali um suporte/andaime fundamental para a nossa vida. O momento em família é uma componente indispensável para o nosso bem-estar. Logo, há que aproveitar estas festas populares, para poder realizar esta união familiar, uma vez que não será ao vento do stress do dia-a-dia que esta irá surgir. Para além disto, muitas vezes é apenas nestas ocasiões que a família tem tempo para parar e dar um pouco de atenção àqueles que pertencem à sua linhagem. Trata-se de uma circunstância privilegiada para podermos cultivar a nossa personalidade e desenvolver competências. É amargurante e assustador o fenómeno que existe hoje em dia, onde as pessoas não têm tempo para colocar o trabalho e os problemas em stand by, por isso há que aproveitar todas as ocasiões onde isto pode acontecer.

Além disto, subsiste sempre algumas bandas de música e artistas que vão fazer um espetáculo para todos. Como todos sabemos, a maior parte destes são cantores de músicas tradicionais portuguesas, o que não agrada a muitos, visto que parecem ter sempre a mesma melodia e o mesmo tipo de letra. Contudo, apesar gostar ou não, o que é certo é que as pessoas estão lá e de uma forma ou outra divertem-se e espairecem, libertando-se um pouco da “prisão do quotidiano”. E o mais interessante nisto tudo é ver mais de 20 pessoas unidas e alegres. As pessoas de mais idade, que vêm com as suas famílias ou através de lares, têm ali uma oportunidade para ouvirem algo que gostam, assim como dançar alegremente e num rodopio aproveitar para encaminhar os problemas para trás das costas. As pessoas mais novas, apesar de não gostarem tanto, acabam por se juntar aos mais velhos, nascendo através disto relações intergeracionais, que sabemos que cada vez mais são importantes para que as pessoas de idade mais avançada, se sintam valorizadas e concretizadas, ao mesmo tempo que se desconstrói preconceitos, que sabemos que estão muito presentes nos discursos dos nossos jovens.

Existem tantas influências externas, que muitas vezes nos desconcentramos daquilo que essencial, nomeadamente o amor, partilha e amizade entre todos. Temos na vida tantas festas, mas esquecemo-nos enumeras vezes da “festa da vida”, que se trata de uma simples complexidade de ligações e afetos que podem trazer experiências gratificantes e benéficas para um Mundo onde cada vez mais os valores e práticas familiares e grupais se têm vindo a desmoronar.

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1 Comment

  1. Maria

    07/07/2014 at 18:46

    Excelente texto. Sim, realmente estas tradições estão-se a perder, o que é uma pena visto que tal como tu dizes são contextos fantásticos de desenvolvimento e alegria.

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