Artigo de Opinião
Ensino VS Covid-19
O ser humano tem necessidades básicas e elas não se resumem apenas a água, comida e a um teto debaixo do qual dormir. Temos necessidades psicológicas como membros da sociedade que somos, por exemplo, e acima de tudo, temos necessidades de autorrealização. Mas será que a realização pessoal é assim tão fácil de atingir? Será que todos têm acesso às mesmas ferramentas para tal?
Não desminto que o uso de “acima de tudo” quando aplicado a este tipo necessidades possa ser um pouco dúbio, mas remeto para a Pirâmide de Maslow como refúgio para o uso desta expressão. É inegável que se as necessidades mais elementares não forem satisfeitas, o problema é ainda maior mas, diria também que é um problema mais visível e que não tem tanta tendência a passar despercebido. No que diz respeito à igualdade de oportunidades, ao acesso a ferramentas como um “simples” computador, internet em casa, um espaço sossegado, … podem surgir problemas que aparentemente não são nada graves. Mas como é que podemos esperar motivação, ambição e objetivos por parte de alguém que não tem acesso a recursos que para outros não passam de banalidades?
Nestes últimos tempos, a covid-19 obrigou o país a recorrer ao ensino à distância e, assim, veio mais uma polémica para o ar. Este modelo foi fortemente criticado por acentuar as desigualdades, uma vez que muitos estudantes se viam impossibilitados de aceder aos materiais disponibilizados e mesmo de cumprir as tarefas propostas. Mas será que este modelo de E@D é assim tão maligno? Tudo tem os seus prós e contras e, honestamente, diria que podem existir algumas vantagens. Portugal, comparando com outros países, tem ainda um ensino bastante teórico, pouco interdisciplinar e pouco dinâmico. Neste novo formato, o ensino tem oportunidade de se reinventar e, nesse sentido, pode-se aproveitar para recorrer a plataformas com atividades interativas, aplicações de telemóvel que permitem criar quizzes sobre os conceitos lecionados, ou até mesmo colocar os alunos em grupos mais reduzidos a trabalhar entre si, em salas virtuais.
Posto isto, recomendaria um momento de reflexão, começando por imaginar uma moeda na qual temos numa face o ensino presencial e na outra o ensino à distância. Enquanto a primeira face estava voltada para cima, as desigualdades no acesso ao ensino estavam mais escondidas. A partir do momento em que o jogo virou, uma série de assuntos vêm ao de cima. Assim sendo, acho que o grito que se escuta desta problemática é a necessidade de combater as desigualdades existentes, dando apoio em diversas áreas nas quais inúmeras crianças e jovens estão mais debilitados. Não é solução simplesmente pensar que daqui a duas, três ou quatro semanas, o ensino retomará aos moldes presenciais porque as desigualdades não vão deixar de existir.
Não posso deixar de louvar as inúmeras associações que se dedicaram a estas causas que necessitam de uma resposta urgente. Contudo, isto é uma responsabilidade que não devia ser suportada por associações que tentam colmatar as falhas.
Tendo em conta todos os entraves anteriormente mencionados, que dificultam o sucesso do ensino em Portugal , deixo dois apelos: (1) o ensino em Portugal precisa de evoluir – os tempos mudam e novas oportunidades surgem, as mentes dos estudantes e os interesses deles divergem dos de gerações passadas e, por isso, o ensino deve também adaptar-se a eles; (2) tem que existir um esforço maior para combater as desigualdades existentes – educação é também um bem essencial!
Artigo da autoria de Inês Sousa