Artigo de Opinião
MIRAGEM
Por sobre a simultaneidade de que o real continuamente se alimenta e regurgita, pairam grossas e negras nuvens anunciando enigmas e tempestades cognitivas. Ébrios de modernidade, pensávamos o mundo segundo as suas hierarquias, organizações, sequências, classes, géneros e outras coordenadas. O que nos era dado a ver só tomava sentido filtrado por essas sofisticadas peneiras de categorização universal regulada, normalizada e, sobretudo, racional.
O tempo era um vetor, o espaço uma superfície e as coisas seriam pontos e sistemas de pontos compostos e espaçados segundo a ordem natural das coisas. Tudo o resto seriam resíduos estéreis, cogitações inúteis e fantasias eruditas evaporadas de almas românticas, utópicas e rarefeitas em cápsulas fechadas.
As coisas seriam limpas e aquela guia de passeio na metade inferior esquerda teria que bordejar mesmo um passeio sem erva fresca (espaço verde) e folha seca (biomassa). Não seriam permitidos dois postes juntos e os paralelepípedos brancos e cinzentos alinhariam pelas pirâmides que brancas seriam; aliás, as pirâmides alinhariam pelo Egipto e recuariam os tantos milhares de anos. O ordenamento do espaço seria ajustado à sincronização do tempo.
Que viva Paços de Ferreira!
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