Artigo de Opinião

Já são 5 Anos de Porto Inclusive

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O projeto Porto Inclusive comemora nesta semana, cinco anos de atividades voltadas para a socialização de pessoas LGBTQIAP+ na cidade do Porto e “vizinhos”. A ideia do coletivo, sem fins lucrativos e que foge de vínculos políticos, é planejar e executar ações que promovam a integração de toda e qualquer pessoa que se sinta à vontade em participar de atividades voltadas para esse público; mas, acima de tudo, que desejam compartilhar experiências de vida.

Com uma agenda anual de atividades, além da sua participação ativa na Marcha do Porto — o seu ato de militância mais pungente —, o coletivo realiza diversas atividades e eventos de convívios, incluindo oficinas, passeios, piqueniques, idas ao cinema, eventos culturais e entre outros.

A verdade é que, em uma sociedade fortemente patriarcal — e isso envolve muitas questões como o machismo enquanto cultura dominante, o racismo estrutural que reveste as lutas de classes e a misoginia que mata mulheres diariamente —, promover ações de convívio e atividades voltadas para a população LGBTQIAP+ é essencial, não apenas para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva, mas para tornar as nossas narrativas de vida cada vez mais factíveis. Existimos e precisamos contar mais sobre isso.

Afinal, não é surpresa para ninguém que a população LGBTQIAP+ enfrenta, diariamente, diversas formas de violências físicas e psicológicas revestidas por preconceito e discriminação. E tudo isso leva a sentimentos como ansiedade e insegurança ressentidos pelas situações de isolamento e exclusão sofridas por essas pessoas. E não se assuste,

muitas dessas violências acontecem dentro da própria casa dessas pessoas, sendo a família um dos principais agentes dessa violência.

Partindo dessas informações, torna-se cada vez mais necessário a promoção de espaços seguros e de oportunidades de convívio por meio de atividades que valorizem e celebrem a diversidade sexual e de género em todas as suas formas e cores.

Por isso, a existência do Porto Inclusive também é uma maneira de se combater o preconceito e a discriminação. Afinal, as suas ações de convívio e atividades voltadas para a população LGBTQIAP+ acabam por promover o empoderamento e a autoestima dessas pessoas.

PI: o abraço pela inclusão na invicta

Ainda em 2017, foi criado o grupo de Facebook “Saídas LGBT no Porto”, uma rede de pessoas LGBTQIAP+ da cidade, cujo principal objetivo era organizar convívios entre essas pessoas, indo na contramão de aplicativos como Grindr, mais voltado para encontros físicos.

Depois de algumas atividades na rede social, reconheceu-se a existência de um outro grupo, “Mariquices no Porto”, com o mesmo propósito.

Assim, os fundadores de ambos os grupos (Jorge e Bruno) decidiram criar um projeto conjunto mais capaz e, juntos, optaram por um nome e imagem, “Porto Inclusive” e em maio de 2018, começou-se a construir a presença desse coletivo nas redes sociais. (informações retiradas de arquivos)

Hoje, o coletivo é formado por um grupo de jovens LGBTQIAP+ que decidiram fortalecer ainda mais o projeto, ajudando de forma voluntária na execução e no planeamento das atividades oferecidas pelo PI.

Mesmo de uma forma mais distraída, o Porto Inclusive vem desempenhando um papel fundamental na luta pelos direitos LGBTQIAP+ na cidade do Porto, ao oferecer convícios seguros e ajudado a promover a inclusão dessas pessoas, dando oportunidade para estas expressarem a sua identidade de género e sexualidade.

Mas ainda falta gerúndio na malta

Cinco anos não se equiparam a cinco décadas, por isso, numa escala de impacto cultural, a ditadura militar tem mais influências no comportamento dos culties bacaninhas da cidade do Porto do que a bolha que os coletivos criam em volta de si mesmos.

A problematização exacerbada gera ainda mais atrasos, além de alimentar a preguiça das mentes mais ativas. A mudança começa dentro da gente, mas as vezes é preciso tirar um tanto de fora e se deixar atravessar.

Eu também cheguei ao meu número cinco. Fazem cerca de 5 meses que estou integrante no coletivo. E opiniosa como eu sou, tenho minhas criticas, afinal, nada nunca é bom o bastante que não possa melhorar um bocadinho mais.

Talvez, todas essas conjugações de ações exatas façam fugir de suas mãos o sentido cantado da coisa. É preciso soltar o verbo agindo, fazendo, mudando…

Revolução é tudo aquilo que muda a forma com que algo é visto, sentido, ensinado…

A esperar, as pessoas decidem deixar que o ciclo siga o seu fluxo. Que a mudança venha pela evolução. E como bem aprendi na escola, toda a evolução parte de algo preexistente e de um conceito preconcebido.  E a gente não deve lutar pela evolução da sociedade, mas sim pela revolução das coisas.

Todo corpo é politico 

As pessoas precisam desmistificar essa ideia de que o ativismo enquanto performance de luta nas causas sociais é uma manifestação violenta e ilegítima. Isso é a mentira que o opressor criou para silenciar a gente. Do que adianta gritar com o microfone desligado?

Essa ideia de “passividade humana” é coisa de quem nunca precisou ser combativo. E todos os dias, nós lutamos para ser respeitados, seja no trabalho, na escola, na rua e até mesmo dentro de nossas próprias casas. A nossa luta é pelo direito de sermos quem somos. E o outro nunca deve poder dizer como devemos nos comportar sexualmente [ ou não ] no mundo.

A minha luta enquanto corpo político, é para que a sociedade entenda de uma vez por todas que identidade de género, orientação sexual e tantas outras diferenças não nos tornam menos humanos. Na verdade, é justamente as nossas diferenças que nos move no mundo.

E entenda, ser diferente não é ser individual. Tenha sempre em mente uma coisa: a nossa humanidade está no respeito e empatia que investimos no outro.

Usar cropped, maquiar o rosto, usar vestidos, enfim, impulsionar a minha imagem enquanto pessoa gay é utilizar o meu corpo como ato político. É ocupar os espaços com a minha existência. O meu eu é a minha arte mais genuína de se fazer existir. E com diria Clarice Lispector, “já que sou, o jeito é ser“.

Artigo da autoria de Ícaro Machado

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