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Artigo de Opinião

“QUANDO A CARA NÃO DÁ COM A CARETA…”

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Diogo Rodrigues da Silva

Diogo Rodrigues da Silva

Esta quarta-feira iniciavam-se os preparativos para a exposição de celebração dos 100 anos da República, marcada para dia 2 de Outubro, e eis que partidários do BE e PCP, aquando do seu desfile pelo andar nobre da Assembleia da República se indignaram ao deparar-se com arte que, portanto – não querendo eu ser excessivamente cruel – lhes trouxe profundo desagrado. Com arte quero significar os bustos dos presidentes da república, incluindo os bustos da época da Ditadura Militar e do Estado Novo. Imagine-se que, tal foi o desagrado com as peças expostas, o PCP na decorrência do plenário, pela voz de António Filipe, se fez ouvir em defesa da democracia que alegadamente “estava a ser enxovalhada”. Para evitar que o Partido Comunista lançasse os foguetes e fizesse a festa sozinho, o BE juntou-se ao protesto (como não poderia deixar de ser). Tudo isto foi em vão, dado que a maioria venceu aprovando a exposição, e, a meu ver, bem. Pelo menos, descobriram o mal que é provocado quando a cara não dá com a careta, algo com que os portugueses já estão francamente habituados a lidar.

O mais caricato é que esta indignação tirou tempo ao plenário para discutir aquilo que realmente importa. Ainda mais surreal é esta gaforina ter a sua génese no facto de, por entre as personagens históricas, figurarem bustos de personagens que remontam à Ditadura Militar e ao Estado Novo, tal como Américo Tomás ou Craveiro Lopes, quando o mais normal seria tal acontecer a partir do momento em que a própria exposição foi denominada “O centenário da República”. Dava jeito as “novas oportunidades” a algumas personalidades dos tempos que correm…

Bem. Perdida que estava a luta por meios diplomáticos, havia que experimentar meios menos ortodoxos, ou traduzindo por miúdos, dar uso aos insultos. “Ai que os bustos estão horrendos” – ecoava nos corredores. “Ai que os bustos não estão nada parecidos, que coisa insípida” – diziam outros tantos. Pelo que se pôde ver nas imagens apresentadas pelos media, os bustos, obra de Joaquim Esteves, até que estavam muito bem apresentados e, parecidos ou não, zelavam pela boa imagem e memória de todo um “Hall of Fame” que contribuiu melhor ou pior para o Portugal de hoje. Diria até que estavam aptos a envergonhar as estátuas da ilha da Páscoa que, por certo, um ou outro elemento partidário já se dignou a pagar para ver, aproveitando alguma sexta-feira em que não marcou o ponto no Parlamento.

Mas também não quero deixar ninguém abatido com o que digo, porque até há uma boa notícia. As estátuas são de barro. É verdade! E, atendendo a que o preço da água nas aldeias do interior até vai descer, se alguém de lá vier e tiver jeito para a “poda” pode sempre dar um jeitinho nos bustos menos abonados em beleza.

Diogo Rodrigues da Silva
AdC Advogados

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