Artigo de Opinião
“MÃE, GOSTAVA DE ME JUNTAR À JIHAD”
Ouvi esta frase alto, esta semana, numa rua no centro do Porto. Pressupus (e ainda pressuponho) que foi dita com a intenção de uma piada para tornar mais leve uma conversa pesada. Pressupus que aquele jovem, a quem não daria mais do que 17 ou 18 anos estaria a brincar com a mãe. Só que, enquanto continuei o meu caminho, aquela frase perseguiu-me.
Para mim, porque apenas a ouvi desligada do resto da conversa, aquela frase fez-me pensar na quantidade crescente de jovens que estão a abandonar as suas casas, as suas vidas e as suas famílias para fazer parte do que dizem ser uma guerra santa, para defenderem ideais que parecem errados à grande maioria da nossa sociedade, para defenderem (na verdade) ninguém sabe bem o quê.
O que nos assusta assim tanto em grupos como o ISIS? Será esse mesmo conceito extremista? Todos os dias, vejo pessoas a cometerem atos extremos, pelas mais variadas razões. Será o facto de os combatentes da Jihad morrerem pela causa que defendem e com a qual nós não concordamos? Ou será o facto de eles – por abdicarem de tudo o que lhes pertence (a vida inclusive) – mostrarem uma convicção que rareia nos povos ocidentais? Afinal, quantos de nós estamos dispostos a morrer, a suicidar-nos por uma crença, seja ela qual for…?
Quando ouvi alguém dizer que se queria juntar à Jihad, brincadeira ou não, dei por mim a pensar seriamente no que esse ato revela dessa pessoa. E concluo que revela muita coragem. Estejam os princípios deles certos ou errados, tenham eles (ou nós razão), sejam os meios deles justificáveis ou condenáveis, um facto permanece: é preciso muita coragem para abdicar de tudo o que temos em função de uma crença. Honestamente acho que precisamos mais disto para o lado ocidental do mundo: pessoas verdadeiramente, assustadoramente e inabalavelmente dedicadas a causas.
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David Guimarães
07/10/2014 at 23:56
Estou absolutamente incrédulo com este artigo. O mundo ocidental precisa de mais pessoas como as que defendem o Estado Islâmico afirma o autor. Estou revoltado com este texto de “opinião” O que nos assusta nestes grupelhos não é o conceito extremista Tiago Vaz, são os actos de uma violência inenarrável. “Estejam os princípios deles certos ou errados tenham eles (ou nós razões), sejam os meios deles justificáveis ou condenáveis?” Bem constato que o Tiago tem dúvidas quanto à categorização e valoração de tais atitudes. Não gosto nada de criticar desta forma um companheiro do JUP mas, espero que não seja só eu a achar este artigo absurdo. O Tiago termina dizendo ” Honestamente acho que precisamos mais disto para o lado ocidental do mundo: pessoas verdadeiramente, assustadoramente e inabalavelmente dedicadas a causas”. Julgo que a publicação de artigos deste calibre descredibiliza e desqualifica este jornal académico, que se quer estabelecer no meio estudantil como uma referência de qualidade. Estes facínoras que decapitam cidadãos inocentes não podem ser retratados desta forma leviana como acontece neste texto. Espero que não seja só eu a achar este texto de opinião chocante! De “perder a cabeça”!.
Tiago Vaz
12/10/2014 at 18:11
Caro David Guimarães,
Antes de mais permita-me agradecer o seu comentário, porque para mim será sempre agradável que alguém comente algo escrito por mim, concordando ou não com o que eu escrevo.
Duas razoes me levaram a redigir esta resposta ao seu comentário: a primeira por considerar que foi ponderados e procurou estabelecer críticas bem fundamentadas ao que escrevi; a segunda, porque considero que foi feita uma má leitura e interpretação do que foi escrito e que considero necessário corrigir.
Assim sendo e em primeiro lugar David, nunca, em linha alguma deste texto defendi o ISIS, a necessidade de existência do ISIS ou as acções do ISIS. Do mesmo modo, não afirmei em momento nenhum que precisamos de apoiantes do ISIS no nosso país ou na sociedade ocidental. Esse acrescento foi seu. Aliás, a ideia presente na segunda linha do seu comentário foi lançada por si, não por mim. Afirmo desde já, para que fique claríssimo aos leitores do JUP que repudio todo e qualquer grupo ou indivíduo que recorra à violência.
Em segundo lugar e nessa linha de pensamento David, respeito e concordo quando diz que os actos de violência de grupos como o ISIS são assustadores. Permita-me apenas que, em jeito de comparação lhe pergunte: teme o governo americano ou o exército americano? Se não teme, aconselho-o a ver os vídeos de tortura a prisioneiros cujos protagonistas foram soldados do exército americano.
Quanto às dúvidas que o David presume que eu tenho (e reforçando novamente esta ideia), descanso-o: não as tenho. Condeno o ISIS e condená-lo-ei sempre que recorra à violência. Contudo, e porque um jornalista (ou aspirante a tal) se rege acima de tudo de factos, não posso condenar o ISIS por mais nada que não isso. Não só porque não sou um “expert” no que toca a este grupo, mas também porque não considero condenável por si só (excluindo neste momento o uso da violência) a tentativa de depor um regime governamental (se incluirmos a violência exercida, mais uma vez repito que sim, são actos condenáveis.
Em suma David (e é isto que me faz dizer que não compreendeu este artigo), o uso do ISIS, o acaso de ouvir aquela frase de um miúdo na rua, serviu apenas de um alavanca para questionar a sociedade em que nos encontramos. Sociedade em que, na minha opinião, a generalidade das pessoas perdeu a capacidade de acreditar, com garra, com convicção, com uma convicção tao forte que assusta em algo. Numa ideia. Num projecto. No país em que vive, no Estado que o governa. E essa característica, eles não a perderam. Compreendo se repugnar o ISIS e tudo o que ele representa. Se me permite uma opinião pessoal, acho que devia ponderar apenas que, até na pior das pessoas, até na mais vil organização, é possível encontrar traços bons ou que são ou poderiam ser úteis se aplicados noutras áreas. E, independentemente de eu julgar uma causa boa ou má, causa-me admiração que alguém esteja disposto a perder a sua vida por essa mesma causa.
Uma vez mais, obrigado pela sua opinião,
Tiago Vaz
Pedro Marques Pinto
08/10/2014 at 03:10
Dedicarmo-nos a uma causa é uma coisa
Dedicarmo-nos de forma paranoica a uma causa é outra coisa
Decapitar pessoas é um acto que não assusta o mundo ocidental, mas o mundo inteiro que se diga livre e democrático
Proclamar o estado de guerra santa é simplesmente um anacronismo de proporções aberrantes
Os carrascos voluntários de Hitler estavam dispostos a sacrificar-se pelo supremo líder do terceiro Reich. Muitos cometeram suicídio perante a insuportável verdade de já não poderem contemplar o seu resplandecente führer. Mas é preciso dizer, acima de tudo, que tiveram imensa coragem em abdicar de si próprios, do seu pensamento e da sua liberdade individual, para cometer barbaridades que só a História irá julgar.
Portanto, não é preciso coragem para nos dedicarmos ferreamente a uma causa.
É preciso principalmente ponderação e reflexão na hora de abraçar uma causa.
E, como é óbvio, a legitimidade das causas depende dos fins que pretenda visar.
Da próxima vez que ouça um jovem a dizer bem alto numa rua do Porto uma afirmação desse teor abjecto pense que isso não se deve à coragem ou ao espírito de sacrifício que a cultura ocidental já não reconhece, mas à insanidade pura de uma causa ainda mais insana e delirante.
Tiago Vaz
12/10/2014 at 18:11
Caro Pedro Marques Pinto,
Antes de mais permita-me que lhe subscreva o mesmo agradecimento pelo seu comentário que dirige ao Sr. David Guimarães.
Da sua opinião discordo profundamente de uma coisa apenas: que procure justificar a opção de ser membro do ISIS (ou se extrapolarmos, de qualquer outro grupo armado ou apelidado de terrorista) com o cunho da doença mental. Não posso concordar com esse ponto porque, primeiramente, não há factos que o confirmem (desconheço a existência de exames realizados por qualquer médico devidamente credenciado à saúde mental dos membros do dito grupo). Logo, embora culturalmente nos possa parecer uma loucura a pertença a um grupo como o que está em questão ou a dedicação os seus membros ao dito grupo, não temos como declarar esses homens, mulheres ou crianças doentes mentais. É a sua opinião e como tal, respeito-a, mas não posso partilhar dela. Concordo sim que, para além da coragem que eu acredito ser precisa, seja também necessário ponderação e reflexão. Um lado não incompatibiliza o outro.
É curioso que tenha referido o exemplo da Alemanha nazi. E concordo consigo quando diz que foi preciso muita coragem para apoiantes de Hitler se suicidarem quando, com o rumo que o nazismo tomou, deixaram de conseguir contempla-lo. Contudo, lanço-lhe aqui duas questões: é conhecedor da realidade do ISIS para afirmar que o mesmo não suceda nessa organização? Mais ainda, pode afirmar que todos os membros do ISIS, ou até mesmo a sua maioria defendem a chacina, a matança de inocentes?
Faço-lhe estas questões porque eu não sou capaz de lhes dar resposta, não estou em posição de responder a nenhuma delas e como tal, abstenho-me de julgar o ISIS por mais do que os seus actos de violência, que são os que conheço. Abstenho-me de julgar pessoas das quais não sei nada. O individuo que decapita pessoas, as filma e distribui os vídeos ao mundo? Condeno-o claro, porque aquilo que sei sobre ele é para mim condenável. Como condeno qualquer acção violenta.
Finalizo dizendo apenas que, do pouco que observei daquele jovem, me pareceu isso mesmo, um jovem. Normal, com traços em comum com tantos outros jovens com quem me cruzo. A insanidade pode não ser manifestamente visível, mas duvido que aquele jovem seja mais insano do que qualquer outro ser humano.
Uma vez mais, obrigado pela sua opinião,
Tiago Vaz
Liliana Cardoso
10/10/2014 at 13:19
Compreendo, de facto, o que os dois comentários anteriores defendem, no entanto, creio que é uma questão de interpretação. No meu ponto de vista, o autor não tem dúvidas acerca da categorização nem da valorização do comportamento das pessoas que apoiam o Estado Islâmico, simplesmente não é isso que está em discussão. A questão centra-se no nível de dedicação que estas pessoas têm. Chegando mesmo, na maioria dos casos, a tocar os limites do fanatismo e do paranóico, não deixa de ser uma demostração de coragem que se sobrepõe a tudo aquilo que as rodeia. O que a todos nos perturba é aquilo em que acreditam e não a forma como acreditam. Creio que o autor tinha apenas a intenção de realçar a importância de que no Ocidente existissem mais pessoas com a mesma vontade de acreditar, não de mais pessoas que acreditassem nos valores do Estado Islâmico. Talvez o mesmo nos esclareça…
Diogo Faria
10/10/2014 at 14:39
Estou completamente de acordo com os comentários anteriores. Não há liberdade de imprensa que justifique a publicação de um artigo destes.