Artigo de Opinião
PRECISA-SE PROFESSOR… PARA DESPEDIR
Passado praticamente um mês desde a abertura do novo ano letivo e colocados que deveriam estar todos os professores nas escolas portuguesas, eis que se sucedem situações caricatas, nomeadamente situações de professores colocados (finalmente) que ao fim de duas semanas souberam-se despedidos. Alegadamente, esta situação surgiu devido a uma falha no software de gestão de candidaturas aquando da seleção automática dos candidatos por meio de uma fórmula matemática. O problema está que, depois de detetado o erro, este não foi imediatamente corrigido pelo ministério competente. Não fosse a incompetência do ministro da Educação e da Ciência, Nuno Crato, suficiente, fica registada uma declarada frieza e um evidente desprezo pela vida alheia a partir do momento em que se mobilizam professores do Norte para o Sul ou do Sul para o Norte do país e se colocam esses professores longe das suas zonas de residência (consequentemente longe dos seus, longe da sua zona de conforto, longe da qualidade de vida). Duas semanas depois de estes finalmente terem um emprego (ainda que por um ano) e de poderem suspirar de alívio – depois de organizar a sua vida em função de uma profissão que, nos dias que correm, para ser mantida tem de ser por pura paixão – são informados do seu despedimento. Algo me diz que o Ministro da Educação e da Ciência nem tem educação, nem tão-pouco é entendido em ciência.
Chegamos então a uma encruzilhada onde, por um lado, faltam professores nas escolas, mas, por outro lado, e em boa verdade, há professores a mais. Esquecido parece estar, nos lugares mais recônditos das memórias dos membros do Governo português, que antes de serem o que são e de chegarem onde chegaram também eles foram alunos, ou seja, eles também aprenderam o que sabem de alguém a quem em tempos chamaram de “Senhor professor”, “Setôr”, “Doutor” (quase cronologicamente). No fundo, estão a bater naqueles a quem devem praticamente todos os conhecimentos que obtiveram ao longo da vida por forma a se tornarem, ou tentarem tornar-se, profissionais competentes. E aqueles que lhes passaram esses conhecimentos pensaram algures um dia que aqueles a quem ensinavam não iam cair nos erros dos que já na altura governavam. Estou em crer que o pensaram em vão.
Com isto, gera-se a legitima preocupação com os atuais alunos que estão a ser negligenciados e, por consequência, o futuro deste país está a ser, também ele, negligenciado. No mundo em que vivemos, onde cada vez mais conhecimento é poder, estamos a perder poder. O mesmo será dizer que estamos a enfraquecer, a perder força, a ficar para trás naquilo em que temos de estar sempre à frente. Ao invés de perseguir aquele que é o verdadeiro objetivo da Educação – o investimento a longo prazo – estamos a praticar o desinvestimento a longo prazo.
Dito isto, gostava apenas de deixar a minha nota pessoal muito breve: acima de qualquer Governo está um Estado e acima de qualquer Estado está uma pátria que não é nada mais, nada menos, do que amar o sítio onde se vive. O que fazer quando quem cuida da nossa pátria a maltrata?
Save