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Artigo de Opinião

A Solidão da Geração TikTok

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Imagem: Nikko Macaspac (Unsplash)

Alpha Generation. Smartphone sempre à mão, respostas sempre afiadas nos dedos e dancinhas para gerar engajamento. A geração TikTok é o maior agente da pandemia de solidão. Pelo menos é o que o Brasil assistiu nos últimos dias.

A rede social “X” (antigo Twitter) balançou com a desistência da participante mais jovem e também integrante do grupo Camarote da 24.ª edição do Big Brother Brasil — o maior reality show do País. Vanessa Lopes, 22, apertou o botão e abandonou o programa dias após aceitar participar no confinamento em rede nacional. A influencer acabou perdendo o cachê que seria pago pela Rede Globo.

Com mais de 30 milhões de seguidores na rede social TikTok, Vanessa Lopes Ramalho é uma influenciadora digital, dançarina e cantora brasileira. Mas todas essas facetas não foram o bastante para fazerem dela uma personagem interessante na casa, isso de acordo com as suas próprias visões de jogo.

É o paradoxo de criar conteúdos todos os dias, mas não conseguir lidar com a pressão de ser vista 24 horas por dia “sem filtro” — estético e ocasional (roteiro). Como em The Truman Show (1998), Vanessa saiu pela porta da casa mais vigiada do Brasil.

A futilidade confortável de manter-se sempre no raso

Durante muitos momentos, a sister se viu desencontrada entre os assuntos e situações na casa. Talvez, manter-se frente a câmera do celular fosse mais fácil do que criar relações reais, mesmo que participando num reality show que produz entretenimento a partir de circunstâncias direcionadas e interações entre os participantes.

Dando uma espiadinha breve, o desconforto da criadora de conteúdo pode ter surgido devido a sua carência de “realidade”. A superficialidade dos assuntos, o estado de ignorância e a falta de acesso ao outro podem ser considerados os grandes responsáveis pela crise de interesse de Vanessa em continuar na casa.

Afinal, numa geração de jovens TikTokers, o movimento “semi-cultura” (Theodor Adorno) ganha ainda mais força. As pessoas já não sabem de nada, mas conseguem opinar sobre tudo quando estão nas redes sociais. Curioso? A vida se tornou um tutorial no Youtube e, talvez, se o formato do programa fosse no Metaverso, a jornada de Vanessa teria sido outra.

A epidemia da solidão

Antes de deixar o programa, a Tiktoker chegou a se tornar ‘piada na web’ por suas falas desconexas, conspirações e até mesmo pela mania de perseguição que criou entre ela mesma e os outros brothers. “Eles [produção] colocaram um cara tatuado por que sabiam que eu iria me interessar”, induziu Vanessa. O interessante é que todas essas situações — e algumas outras coisas — levantaram preocupações acerca da sua saúde mental.

A verdade é que todos esses efeitos desenfreados nos avanços tecnológicos nos trouxeram até aqui: o futuro de relações frágeis em uma sociedade digital que categoriza todas as suas afinidades e comercializa felicidades falsas sustentadas por um positivismo tóxico.

De acordo com o estudo “Solidão e isolamento social como fatores de risco para a mortalidade: uma revisão meta-analítica”, produzido pelo Departamento de Psicologia da Universidade Brigham Young (EUA), a falta de conexões sociais pode ser tão prejudicial à saúde quanto fumar 15 cigarros por dia.

Com as redes sociais provocando toda essa criação de conteúdos para o consumo imediato, as relações sociais estão cada vez mais líquidas (Bauman). Ainda segundo o estudo, nas grandes cidades, a agitação diária já são responsáveis por deixar as conexões superficiais, deixando as interações mais profundas e significativas de lado. E o uso desregrado dos smartphones catalisam ainda mais toda essa solidão urbana. 

A saúde mental se tornou trend por causa da casa mais vigiada

“O BBB parece o Caps”, dizia um tweet. Isso porque o telespectador pôde assistir à participante Alane lidar com uma crise de ansiedade “ao vivo”. Na manhã de segunda, 15, a atriz e bailarina se recolheu sozinha na despensa do “Big Brother Brasil 24” para executar um “trabalho de respiração” com o objetivo de se manter calma na casa. A cena, óbvio, rodou as redes sociais, pautando discussões sobre a saúde mental.

Síncope. Dois dias antes, Alane desmaiou durante uma discussão com o agora eliminado, Nizam, com quem quase formou casal na casa. A paraense foi prontamente atendida no confessionário e retornou às atividades no programa.

A falta de controle sobre as palavras de Nizam — que ganhou fama de manipulador fora da casa — aliada à atmosfera intensa do confinamento, parece ter sido um gatilho potente para a ansiedade de Alane.

Quem quer ser um milionário? É importante perceber que esse episódio destaca a complexidade psicológica enfrentada pelos participantes, indicando como as relações interpessoais e as dinâmicas imprevisíveis podem desencadear reações intensas e revelar a verdadeira fragilidade humana, mesmo em um ambiente tão peculiar como o do Big Brother Brasil.

Mesmo tendo gerado desconforto em quem assistiu às cenas de crise, a situação me parece ter potência se percebermos que todo esse “entretenimento” gerou muito interesse pelo assunto, pautando vários veículos de comunicação, além da sua pulverização nas redes sociais.

Artigo da autoria de Ícaro Machado

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