Artigo de Opinião

Como cancelar tradições e ser bem sucedido nisso

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Imagem gerada por AI (licença de José Caetano)

Sinto que estou suficientemente velho para não ser jovem.

Devo ser dos poucos Millennials que acha que a tradição desempenha um papel fundamental nos dias de hoje. O elo tangível que conecta o passado ao presente, oferecendo-nos uma base sólida sobre na qual construímos a nossa compreensão do mundo. Mas longe de mim reconhecer que a tradição não deve ser imutável! Porém, tem o seu preço… atuar sobre a tradição, promovendo mudanças necessárias que o tempo exige, reside na capacidade de fazer isso através do amor, da compaixão e do entendimento.

Confusos?

O amor, na sua essência mais pura, é uma força transformadora. Ele impulsiona o olhar, além da nossa existência. Quando aplicamos o amor à tradição, somos capazes de questionar práticas e crenças que se podem ter tornado obsoletas. A reforma, a tal sem semelhante preço, reinventa a tradição para que ela continue a suster uma sociedade. Já a compaixão traz a outra face. A sensibilidade às necessidades e aos desafios enfrentados pelos outros. Através dela, podemos moldar tradições, garantindo que elas reflitam e respeitem a diversidade e a dignidade de todos os membros da sociedade.

Eis que cancelar seja uma perceção demasiado cara. Será radical achar o entendimento como aspeto crucial na evolução das tradições? As tradições não existem no vácuo, mas sim em contextos históricos e culturais. Perceber a relevância atual surge através da compreensão das origens, plataforma das exigências de um mundo conectado em constante mudança.

Admito que este seja um ato corajoso…

Mas não será precário manter um equilíbrio, qual corda-bamba, entre a veneração do passado e a ânsia pelo futuro? Pondero se estamos realmente mais importados em gritar mais alto ou apenas a reorganizar os móveis numa casa empoeirada… A Vénus transformadora, já muitas vezes foi confundida com nostalgia. Idolatrar o passado, ou o futuro, como relíquias de um aficionado, diz mais sobre nós do que realmente eles nos têm para oferecer. É assim que o presente nos escapa por entre os dedos.

Portanto, afinal de contas, que estarei eu a dizer? Acho que já vivi tempo suficiente para perceber que a mudança pode ser uma virtude vazia. Esconde muitas vezes a inércia de quem se esquece de questionar se ela serve o propósito de melhorar a vida das pessoas. Não deveria ser apenas mudar, mas transformar. Uma nova construção que não rompe, mas usa o passado como a base para inovar. Será demais pedir compaixão de que quem cancela, por quem é cancelado?

Ah, sim! O entendimento!

Eis-me agora, qual velho do restelo, a sonhar com coisas impossíveis. Porque quem procura entender, esquece-se do ponto mais importante: desaprender. Sair, pensar no lugar do outro, sentir aquilo que não posso sentir. Entender as tradições significa ter a coragem de dizer que algumas já não têm lugar na nossa sociedade. E querer transformar, é evoluir sem deixar ninguém para trás. É estender a mão àqueles que hesitam à beira da mudança, lembrando que a harmonia surge não da uniformidade, mas do equilíbrio das múltiplas vozes da sociedade. Não basta exultarmos a transitoriedade da vida e a urgência dos sentimentos, sem abraçar a realidade, mesmo que não seja aquela que gostaríamos que fosse.

… Mas sinto que estou suficientemente ingénuo para não ser velho.

Artigo da autoria de José Caetano

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