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Artigo de Opinião

A POLÍTICA E O PECADO DA GULA

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Diogo Rodrigues da Silva

Diogo Rodrigues da Silva

Depois de alguns dias a assistir aos desenvolvimentos na acérrima campanha eleitoral para a presidência do Brasil, sinto-me agora capaz de bater palmas. Capaz de bater palmas como quem aplaude os melhores atores nos melhores teatros. Não com êxtase, mas sim com ironia e um toque de asco quase atroz.

Nesta última sexta-feira, Dilma Rousseff que surge por um lado como candidata pelo partido dos trabalhadores, atual presidente do Brasil e sucessora de Lula da Silva, e por outro lado, Aécio Neves que se candidata pelo partido da social-democracia brasileira, encontraram-se numa guerra de palavras aberta em mais um debate eleitoral, como quem diz, mais um teatro. Curiosamente, um teatro realmente bom. Aécio Neves deu uso à sua arma mais poderosa: “a verdade”. A verdade que se traduz no conhecimento por parte de Dilma Rousseff e de Lula da Silva do grande desfalque levado a cabo pela Petrobras, não bastante também do financiamento em campanhas eleitorais por parte deste monstro empresarial em troca de favores lucrativos. Começou aquele candidato por seguir os conselhos eleitorais dos especialistas em debates e questionou, a abrir, Dilma Rousseff sobre este assunto – lançado pela revista VEJA – que ardilosamente ripostou com mais acusações e com a confiança de quem acredita que os brasileiros “não são bobos” e, portanto, não pensarão que tal acusação tenha qualquer conteúdo verídico.

Este foi o mote do restante debate que decorreu com sucessivos ataques entre os dois candidatos, aquando das perguntas colocadas pelo público que, apesar de tudo, mantiveram o cuidado de não atacar, fazendo uso dos pronomes pessoais que tanto desejariam, o que me pareceu até inteligente. De qualquer forma, o “tucano” (animal que representa o partido da social-democracia brasileira), deixando de lado o receio criado pela imprensa de que quem ataca uma senhora será menos bem visto, foi quem apareceu mais ofensivo, o que se compreende depois da perda de terreno para Dilma Rousseff nas sondagens da última semana. Esquecem-se apenas que estamos a falar de uma senhora que é, e reforço, “É” presidente do Brasil. Mas esteve bom de ver que, pelo menos, o bom senso apareceu em alguma ocasião, quando toda a propaganda eleitoral é de per si absolutamente fundada em alicerces condenáveis no que aos valores diz respeito.

No fim, nenhum dos dois candidatos disse mais do que já havia dito e nem por isso deixaram de demonstrar a sua estratégia política com toda a abertura. Dilma Rousseff quer conquistar os votos daqueles que são a maioria dos brasileiros, pessoas com necessidade desesperada de sobrevivência, engolidas por um mundo de corrupção e dinheiro obtido de forma suja, que precisam de alguém que lhes dê amparo (o que me parece evidente e normal). Do outro lado, Aécio Neves pretende ser o candidato de futuro, o candidato que quer construir alicerces e só depois a casa, o candidato de uma minoria média-alta que está cansada de sustentar aqueles a quem despreza. Esquecido parece estar que só irá governar, e governar bem, se tiver em consideração as necessidades e interesses de todos os brasileiros.

Enfim…Depois de tudo isto, é um insulto que ainda haja quem pense que a propaganda eleitoral é algo real. A mim soa-me ao melhor dos teatros, um teatro que começa por ser imaginário, em pensamento, passa a palavras e atitudes e depois traz consequências reais. Uma espécie de “falar verdade a mentir”, um teatro de “esfomeados” que querem angariar votos daqueles que realmente têm fome com o singular intuito de apenas a si se saciarem.

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