Artigo de Opinião

O Futuro da Economia Mundial Passa Pelas Indústrias Criativas 

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Fotografia: Museu d'Art Contemporani de Barcelona | Bodega

Aprendi que cultura e arte, enquanto patrimônio material e imaterial, são a maior herança que um país pode deixar. É um legado na história. Não se trata apenas de identidade ou entretenimento, mas de um motor econômico que, se bem alimentado, pode redefinir os rumos do desenvolvimento global. O futuro da economia pode estar na criatividade, mas sua sustentabilidade depende das decisões que tomarmos agora. 

Vivemos numa era onde a inovação e a criatividade são fundamentais para o desenvolvimento econômico e social. As indústrias criativas, que englobam setores como design, publicidade, artes performáticas e audiovisual, têm se destacado como vetores essenciais dessa nova economia. 

Juntas, elas não apenas promovem a cultura, mas também impulsionam o crescimento econômico ao contribuírem significativamente para o PIB (Produto Interno Bruto) de diversos países ao empregarem milhões de pessoas.

Na pesquisa “A Publicidade Enquanto Fonte de Financiamento das Indústrias Criativas” (2023), desenvolvida por mim, enquanto proposta avaliativa para a disciplina de Gestão e Modelos de Negócio em Indústrias Criativas, decidi discutir como essas indústrias, apesar de sua grande relevância, enfrentam desafios substanciais, especialmente no que diz respeito ao financiamento sustentável. 

Em um cenário onde políticas públicas ainda são escassas, a publicidade emerge como uma alternativa crucial para garantir a continuidade e o crescimento dessas indústrias. Por isso, devemos explorar cada vez mais a fundo essa relação e seu impacto.

A Publicidade como Motor de Financiamento das Indústrias Criativas

Não é nenhuma novidade que a principal dificuldade enfrentada pelas indústrias criativas é a obtenção de investimentos. Apesar de sua capacidade inovadora e do impacto econômico positivo, essas indústrias são muitas vezes vistas como ‘terrenos instáveis’ pelos investidores tradicionais. Isso se deve, na maioria, à falta de conhecimento e ao alto risco percebido associado a esses empreendimentos.

Neste contexto, a publicidade surge como uma solução estratégica. Empresas que investem em campanhas publicitárias em colaboração com indústrias criativas não apenas promovem suas marcas, mas também se tornam mecenas modernos, ajudando a sustentar a vitalidade criativa. 

Este tipo de parceria beneficia ambas as partes: as indústrias criativas recebem o financiamento necessário para continuar inovando, enquanto as empresas ganham em termos de visibilidade e prestígio. Para saber mais disso, indico a leitura de um outro texto que trouxe aqui < Super Bock: a cerveja que se apropria das indústrias criativas para tornar-se legítima >

Voltando ao artigo, é importante destacar que a publicidade preenche uma lacuna significativa deixada pela falta de políticas públicas e investimentos tradicionais. Ao financiar projetos criativos por meio de estratégias de marketing, as empresas fortalecem seu próprio posicionamento no mercado e contribuem para o desenvolvimento econômico e cultural. 

A publicidade, portanto, não é apenas um meio de promoção, mas também um catalisador de crescimento para as indústrias criativas.

Desafios e Oportunidades: A Necessidade de Políticas Públicas Ativas

Apesar do papel crucial da publicidade, é evidente que a dependência exclusiva desse tipo de financiamento não é sustentável a longo prazo. As indústrias criativas necessitam de políticas públicas que reconheçam sua importância e ofereçam suporte adequado. Isso inclui não apenas subsídios diretos, mas também investimentos em educação e capacitação, facilitando o acesso ao conhecimento e às habilidades necessárias para prosperar nesse setor.

Isso porque, a escassez de políticas públicas ativas é um dos maiores obstáculos enfrentados pelas indústrias criativas. Muitos governos ainda subestimam o potencial econômico dessas indústrias, resultando em uma falta de apoio sistemático. 

No entanto, quando governos reconhecem e investem no setor, os resultados são notáveis. Exemplos de sucesso incluem países que implementaram políticas de incentivo à cultura e à inovação, criando ecossistemas favoráveis para o florescimento das indústrias criativas.

Uma abordagem mais equilibrada, que combine o financiamento privado através da publicidade com políticas públicas robustas, poderia transformar o cenário das indústrias criativas. Além de proporcionar estabilidade financeira, essa combinação acabaria por estimular a inovação e a diversidade cultural, contribuindo para um desenvolvimento econômico mais sustentável e inclusivo.

O Caminho para um Futuro Sustentável

As indústrias criativas desempenham um papel vital na economia moderna, não apenas como fontes de entretenimento e cultura, mas também como motores de crescimento econômico. No entanto, para poderem continuar a florescer, é essencial encontrar formas sustentáveis de financiamento. 

Governos e instituições precisam reconhecer a importância dessas indústrias e implementar políticas públicas que ofereçam suporte adequado. Isso inclui investimentos em educação, capacitação e infraestrutura, além de incentivos fiscais e subsídios diretos. 

Com um apoio adequado, as indústrias criativas podem continuar a inovar, contribuindo para uma economia mais dinâmica e uma sociedade mais rica culturalmente.

Em suma, o futuro das indústrias criativas depende de uma abordagem integrada que combine o melhor do financiamento privado e público. Ao reconhecer e valorizar o papel dessas indústrias, podemos garantir que elas continuem a ser uma força vital na economia global, promovendo inovação, diversidade e crescimento sustentável.

A academia, enquanto lugar de fomento e promoção do conhecimento, cultura e cientificidade, precisa também aparelhar os seus profissionais, oferecendo atualizações, bem como aprofundamento em novos métodos e processos. A cultura academicista do ensino precisa urgentemente romper paradigmas impostos pelo pragmatismo ainda vigorante entre os docentes. 

A idealização de uma indústria tão potente e atual se faz, acima de qualquer coisa, com a descentralização do saber e o investimento em novas formas de se educar e se aprender.

O mercado das indústrias criativas demanda, para além de talento, que os indivíduos aprendam a comercializar, desde a precificação do seu trabalho, à construção de uma imagem comercial ou produto desejável. A resistência ao novo dificulta cada vez mais o avanço, fadando o sucesso ao fracasso de manter-se fiel aos processos fordistas.

E é também aqui que as indústrias criativas colidem com os preceitos da indústria cultural, afinal, o indivíduo entra numa perspectiva de produto intelectual a ser comercializado e consumido no mercado de bens e serviços fetichistas (Adorno).

Não há mais como negar, a economia mundial encontrou uma nova vanguarda: as indústrias criativas. Enquanto o mundo se debruça sobre números e estatísticas, ignoramos a verdadeira riqueza que molda nosso futuro – a cultura e a criatividade. 

Não se trata apenas de arte ou entretenimento, mas de um motor econômico que, se bem alimentado, pode redefinir os rumos do desenvolvimento global. O desafio? Transformar o potencial imaterial em valor tangível, equilibrando a balança entre o apoio público e o investimento privado. 

 

Artigo da autoria de Ícaro Machado

 

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