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Artigo de Opinião

Incêndios em Portugal: relato em chamas

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Morador tentando combater um dos focos de incêndio florestal durante a noite, em uma área densamente arborizada, envolta por chamas intensas. A silhueta da pessoa contrasta com o brilho alaranjado do fogo.
No concelho de Arouca a situação ainda é preocupante com três frentes de fogo ativas | Reprodução: Lusa (site)

Um céu tomado pela fumaça e cinzas, cobre Portugal, enquanto o país enfrenta uma das piores ondas de incêndios dos últimos anos. As chamas avançam por várias regiões, deixando um rastro de destruição e dor. A situação é crítica, e o governo já declarou estado de calamidade nas áreas mais afetadas. 

Milhares de fotos e vídeos testemunham o medo. O envermelhecer do céu de Portugal tem ganhado muita notoriedade nas redes sociais. O arder do fogo pode ser sentido no ar a partir das milhares de nuvens de cinzas que pairam no céu da Invicta. Um nevoeiro que faz arder os olhos e tossir seco.

Gondomar, Paredes, Aveiro e muitas outras regiões queimam entre o calor e a agonia de muitas famílias. O país luta contra 64 focos de incêndio ativos. Sete pessoas morreram, incluindo três bombeiros.

Ao final da tarde desta quarta-feira, o dispositivo de combate enfrentava dezenas de incêndios ativos. Foi declarada a situação de calamidade nos concelhos afetados. No concelho de Arouca a situação ainda é preocupante com três frentes de fogo ativas.

Todas essas informações são um compilado de fatos partilhados pelos veículos de comunicação em tempo real. Mas esse artigo de hoje, que sucede esta introdução devastadora, é do jovem estudante Guilherme Catarino, que me escreveu pedindo para contar como está se sentindo diante de tudo isso. Segue o texto na integra: 

Portugal (em) Chama

Esta semana, acordámos para o espanto de muitos com um Porto coberto de cinzas. Digo espanto, pois todos os anos parece ser essa a reação de muitos à repetitiva época dos incêndios.

Recordo-me, em 2017, aquando dos incêndios de Pedrógão Grande, de ver o Porto assim. O céu coberto de nuvens alaranjadas, cor de labaredas, e cinzas que dificultavam a respiração a caírem do céu.

Desde essa altura, o que fizemos para impedir que se repetisse? Felizmente, existe o X (Twitter) para nos recordar comentários de deputados ligados ao anterior governo que lidou com Pedrógão Grande e que possuem a resposta: “Chamaram-se especialistas, investiu-se em mais meios de combate e de prevenção, construiu-se uma estratégia, trabalhou-se conhecimento e know-how.”

Claramente, a estratégia falhou. Até vou mais longe ao afirmar que esta estratégia de investimento resumiu-se apenas a frases bonitas para mandar areia para os olhos de quem vê. A maior prova disso foi esta prova de fogo a que estamos a ser sujeitos agora.

Espero agora que, com o novo Governo, exista efetivamente o desejo de reformar a forma como prevenimos e combatemos incêndios. Um bom começo seria refletirmos sobre a importância do eucalipto.

Incêndios em Portugal: uma floresta Anti-inflamatório Inflamável 

O eucalipto é uma árvore que representa cerca de um quarto da área florestal portuguesa, sendo uma espécie invasora plantada devido à sua utilização na produção de papel. Contudo, é uma árvore altamente inflamável, ao contrário de espécies pertencentes à flora nacional, como o pinheiro-bravo ou o sobreiro.

Atualmente, em Portugal, o tabaco é taxado negativamente para refletir as suas consequências prejudiciais para a saúde, e as receitas são utilizadas para financiar o combate ao tabagismo e o Serviço Nacional de Saúde.

Deste modo, até que ponto a exploração agrícola de eucaliptos não deverá ser taxada de forma a refletir as suas consequências a nível da preservação contra incêndios, assim como outras consequências ambientais, para financiar os nossos bombeiros e a nossa rede de prevenção de incêndios?

Precisamos de mudança. Não quero um país onde todos os anos falamos de milhares de pessoas em pânico a saírem das suas casas para combater os incêndios que se aproximam. Não quero um país onde falamos de prevenção de incêndios, mas nem multas por falta de limpeza dos terrenos aplicamos. Portugal chama, mas ambiciono que um dia já não seja preciso chamar por nós.

Artigo da autoria de Guilherme Catarino (colaboração)
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