Artigo de Opinião

O CONCERTO MUDO DO PALRADOR

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Diogo Rodrigues da Silva

Lida que foi por todos nós a carta enviada esta quinta-feira ao jornal Diário de Notícias por José Sócrates, surge quase desconcertante a forma como este se põe à margem do núcleo de pessoas que refere com cariz subliminar. Mais estranho é este concerto que José Sócrates nos parece querer dar com cartas, cartas, cartas. Depois de lidas, filtra-se um belíssimo blá blá blá whiskas saquetas, nada fiz, sou inocente, cambada de políticos, ai que me esqueci que sou político…

É de mim ou isto cheira a uma despropositada (diria sem querer) autoincriminação? Já dizia um querido tio meu que, quando alguém começa a apontar o dedo incessantemente para todas as direções, é porque não quer cair sozinho. Apesar disso, é certo e sabido que até ao momento Sócrates é inocente e nada mais do que isso.

No entanto, não posso deixar de o nomear com aquilo que ele próprio se nomeou. Sócrates diz-se cobarde, cúmplice de jornalistas e, em parte, amigo de gente cínica (“diz-me com quem andas e dir-te-ei quem és”), não ignorando que Sócrates é contra o funcionamento dos órgãos de Polícia e Justiça. Passo a explanar: José Sócrates, ele mesmo, 1.º Ministro de Portugal no anterior Governo, portanto, Político, afirma que o sistema funciona pela cobardia dos políticos. Tendo Sócrates uma vida política, será o mesmo que se autocaracterizar como cobarde. Se ele é cobarde, pode estar agora mesmo a acobardar-se. E o que faz um cobarde quando o encostam à parede? Acusa os outros. Estarei enganado? E eis que curiosamente de Évora saem todos os dias cartas acusatórias de um novo residente…Não fora isto suficiente, Sócrates diz que o sistema sobrevive através de relações de cumplicidade com jornalistas, o que não suscita grandes dúvidas. É mais do que regular verificar a falsidade de notícias que são tornadas públicas, mas, curiosamente, o agora acusador já foi acusado de manter relações cúmplices com jornalistas e, aquando dessa acusação, defendeu-se encobrindo a existência deste tipo de ocorrências. Cumplicidade com jornalistas? “Jamé”. Quanto ao cinismo dos professores de Direito, reduzo-me ao silêncio dos justos. Apenas me causa alguma curiosidade o porquê de o círculo de amigos de Sócrates ser composto por uma tonelada de juristas. Será porque os há em quantidades industriais? Não creio.

Sócrates denuncia ainda o seu repúdio pelo funcionamento dos órgãos e instituições de Polícia e de Justiça. Mas porquê este seu descontentamento? Se a Justiça está a funcionar e o justo é a sua declaração como inocente, quanto mais rápido a Justiça funcionar, mais célere será a sua libertação. Entenda-se lá isto.

Mas calma. Há alguma sabedoria nas palavras finais de Sócrates, com as quais me retiro: “O sistema vive pelo desprezo que as pessoas decentes têm por tudo isto”. Palmas para o palrador!

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