Artigo de Opinião
OS INGREDIENTES QUE FAZEM A DIFERENÇA
A Universidade do Porto possui, reconhecidamente, uma comunidade académica vibrante, eclética e crítica, inserida numa cidade que nunca foi conhecida por ser passiva ou com falta de voz nas coisas que contam. Possui também muitas singularidades na área onde me movimento melhor, a das Ciências da Nutrição. Apesar de nem todos saberem, a Universidade do Porto possui a única Faculdade pública portuguesa a ministrar uma licenciatura em Ciências da Nutrição (FCNAUP) e a formar Nutricionistas. Na cidade do Porto tem sede a Ordem dos Nutricionistas, uma das poucas Ordens profissionais com sede no norte e a primeira e atual Bastonária da Ordem é uma licenciada na UP. E toda uma geração de Nutricionistas que desde 1977 saiu da UP e está hoje espalhada por este mundo fora a trabalhar, desde a Organização Mundial de Saúde até ao Fórum de Davos.
Mas o que fez com que uma geração de uma casa pequena, em construção pós-abril e sem tradição, tenha tido sucesso? O acaso, a qualidade da formação universitária, a base familiar, o ambiente social da cidade, a matriz ideológica da formação? Talvez tudo isto, mas existe uma característica que nem sempre é sublinhada quando se faz este tipo de contabilidade, que é o exemplo.
A geração Fcnaupiana teve figuras tutelares, que mesmo sem “saberem” tudo, eram copiadas, idolatradas, acarinhadas. Não porque tivessem tido um sucesso profissional transcendente… algumas destas figuras como Emílio Peres até nunca tiveram um percurso académico ascendente, provavelmente por razões políticas. Apenas eram personalidades que reuniam um conjunto de características humanas que faziam a diferença e porque, acima de tudo, tinham aquilo que Howard Gardner chamou as Five minds for the future*.
Ou seja, competência técnica, traduzida num compromisso ético de aprendizagem e atualização permanente ao longo da vida profissional, assumindo a vontade de criar as condições para a aprendizagem dos outros e para a transmissão do conhecimento e experiência aos mais novos na profissão. A capacidade de síntese, juntando peças de diferentes áreas do saber e ligando-as de forma a darem sentido ao seu trabalho, às aspirações e necessidades dos outros e a saberem comunicar para terceiros. A capacidade de inovar, pois a formação superior está associada à inovação e criatividade e não a um profissional que mecanicamente responde apenas às necessidades diárias. A capacidade de respeitar, enquanto pedagogo, evitando estereótipos e vestindo realmente as mais legítimas ansiedades e aspirações dos outros e obrigando à humildade e respeito. E por fim, a capacidade ética e de compromisso que pressupõe que o trabalho vá além do interesse próprio e que sirva a sociedade ou seja, o serviço para a comunidade, para a região, sem receber diretamente nada em troca e que pode ser profundamente transformador e gratificante a nível individual e coletivo.
Creio que algumas destas figuras que deixaram marcas de bem-fazer nos nossos percursos profissionais tinham estes ingredientes… aos quais eu juntaria talvez… o humor… ou a mais fina ironia… que são marcas dos génios que sabem observar e entranhar-se nas nossas vidas para não mais nos largar.
*Howard Gardner (2007). Five minds for the future. Harvard Business School Press: Cambridge, MA.
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José Mota
26/03/2014 at 20:12
Este tipo tipo nunca disse, nem diz nada de jeito… é um lírico com a mania que percebe de comunicação… Mas nem disso ele sabe! É um inútil a quem pagam um salário!
Rita Andrade
06/04/2014 at 07:30
Parabéns ao JUP online pela qualidade das crónicas e artigos até agora publicados. Fazia muita falta. Acho que o que se fala neste artigo são os valores de qualquer profissão. E que nos últimos tempos andam em baixo por causa duns senhores sempre a dizerem que não trabalhamos o suficiente e que somos todos uns malandros. Para mim, sem valores e sem respeito pelos outros, como aqui se diz, não vale a pena ter o título de Dra.