DIGNIDADE RASGADA

Joana Rita Abreu

A história já se repete há 4 semanas. O Padre Albino, novo padre da freguesia de Canelas, em Vila Nova de Gaia, é recebido com manifestações populares, maioritariamente ao domingo. Em causa está a saída do Padre Roberto, que estava na paróquia há 8 anos, e que, segundo a Diocese do Porto, estava na lista da “rotatividade”, considerada normal.

Enquanto decorre a missa, tem lugar na entrada da Igreja uma cerimónia paralela, marcada por cânticos e orações, mas também por gritos pelo nome de “Roberto”, por parte de uma paróquia que não quer o Padre Albino por ali. E é precisamente esse sacerdote que tem sido escoltado pela GNR e que tem sido alvo de inúmeros insultos. O próprio, em entrevistas, já referiu que já temeu agressões, vendo a sua integridade física comprometida.

A reação destes supostos fiéis é claramente agressiva, ultrapassando todos os limites de respeito e de civismo. Insultam e tentam agredir alguém que foi somente cumprir o seu papel, num ato pleno de fanatismo que vai totalmente contra os ideais do cristianismo: ver os outros como irmãos, amando-os e respeitando-os. Numa religião de paz, fraternidade e tolerância, transforma-se de maneira radical uma porta de Igreja num cenário de guerra, criando um ambiente visivelmente hostil.

No entanto, são estes cristãos que se mostram indignados em declarações à comunicação social, enquanto gritam ao mundo a boa ação que dizem estar a fazer e o quão exemplar são, defendendo uma comunidade que de sã parece não ter nada. Os leitores demitem-se. O coro deixa de ir às missas cantar. A catequese fica parada. Aos domingos grita-se “é um bicho, é um porco, não tem capacidade!”, entre outros insultos baratos que parecem vindos de uma claque de futebol – também aí o fanatismo, por vezes, fala mais alto. Erguem-se guarda-chuvas em riste e agarra-se o padre pelo casaco. E tudo isto só demonstra uma atitude profundamente triste e infeliz por parte desta paróquia, que mesmo com razão para protestos, a perde toda pela maneira ridícula como se manifesta.

O Padre Albino não desiste, apesar de considerar que a sua dignidade está a ser rasgada por tais atos. Como o próprio afirmou, às vezes há lobos no meio do rebanho que o tentam desviar, que não o deixam aproximar-se nem sequer ser comandado. E, de facto, há cada vez mais lobos disfarçados de cordeiros, que são o perfeito exemplo de hipocrisia, fingimento e dissimulação.