Artigo de Opinião

SOMOS TODOS SYRIZA…?

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Tiago Vaz

Era inevitável fazer uma péssima piada com isto. Tal como era inevitável falar deste assunto, que foi na verdade o assunto deste mês. Para os eventuais distraídos, há um novo partido a governar a Grécia: chama-se Syriza, está a fazer as delícias da extrema-esquerda (em particular da portuguesa!) e a causar suores frios ao resto da Europa.

A vitória do Syriza era, sem dúvida, esperada. Trata-se de um partido relativamente novo (nasceu em 2007) e, como tal, com uma energia diferente associada: não está preso a laços históricos ou a políticas típicas, o que significa que tudo o que fizeram, fizeram pela primeira vez (e continuarão a fazer). Para além disso, apresentaram-se sempre como um partido contra corrente, típico da extrema-esquerda, apelando a um caminho totalmente oposto do que foi seguido pelos governos gregos entre 2007 e 2015: sem troika, sem austeridade e sem sacrificar o cidadão comum. Estas e outras razões viram o partido erguer-se de uma simples ideia ao lugar que ocupará, à partida, nos próximos quatro anos.

Muito foi falado à medida que o Syriza foi ganhando voz na Grécia. Muito foi falado, especialmente dentro, mas também fora da Grécia. Muito mais tem sido falado nos últimos dias, agora sobretudo fora da Grécia. Essa é a primeira diferença fundamental a reter. O Syriza agora é nosso. Até aqui era só mais um partido grego. Agora é o partido grego. Agora tem o peso que apenas outros 27 partidos têm e as decisões que tomar afectar-nos-ão também.

Portanto, a Europa está com medo. Porque ainda não tinha havido nenhum Syriza até hoje. Nem com outro nome, note-se. Ainda nenhum governo tinha tido a coragem de dizer basta. De criticar declarada e abertamente a forma como se faz política no seio da União Europeia. E tudo estava aparentemente bem, porque, mesmo em risco de naufragar, o barco fazia o que o comandante ordenava. Agora que foi dada voz a um “desordeiro”, o comandante e toda a tripulação ficaram sem saber bem como responder. Eles bem respondem, mas falta firmeza na resposta. Falta conteúdo.

Não defendendo se o Syriza seguirá no caminho certo ou se tem ou não razão nas reivindicações que já fez (uma delas o renegociar da dívida, pairando no ar a vontade de que esta seja perdoada), mas uma coisa é inegável: tem gerado debates interessantes, tem criado polémica, tem obrigado a que os agentes políticos pensem, avaliem, escolham e se pronunciem. Tudo isto em apenas 6 dias, sem que haja ainda um governo oficial, sem que exista ainda um impacto mensurável da subida deste partido ao poder.

Por cá, nos nossos media e nas esferas política e pública, dividem-se as opiniões entre quem acha que o sr. Alexis Tsipras não percebe nada do que está a fazer e se vai aperceber em breve de como o que prometeu aos gregos não é exequível e os que acreditam que este é um ponto de mudança, um final de uma Europa velha e em crise. Todos os dias se escreve, se fala, se opina. Porque agora a Grécia é um problema nosso, agora (e porque a frase está na moda) somos todos Syriza. Ou porque simplesmente gostaríamos de ter um Tsipras e um Syriza por cá.

Ainda que nenhuma mudança concreta se faça sentir na UE a partir de tudo isto, o novo governo grego veio pelo menos agitar as águas. Ainda bem, Janeiro estava a ser um mês extremamente aborrecido; veremos o que Fevereiro (e o Syriza também) tem para oferecer.

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