Artigo de Opinião

QUARENTENA GREGA

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Tiago Aboim

Em abril, o novo governo de Atenas terá de apresentar um ambicioso plano de reformas fiscais, económicas e sociais a Berlim e às instituições europeias, de forma a evitar a necessidade de um terceiro resgate ou inevitabilidade da saída do Euro, que conduziria a um efeito contágio na Europa, pondo em risco o euro.

Pois bem, a Europa, aliás, a Alemanha, assume-se como defensora da autoproclamada austeridade. A austeridade na Grécia, em Chipre, Portugal e Espanha, causou e causará danos irreversíveis no tecido social, económico e, porventura, politico nesses países, com a afirmação de ideias nacionais, eurocéticas, recorrendo ao populismo demagógico como uma alternativa ou a um discurso dos extremos.

Enquanto se gladiam na arena gregos e alemães, a situação socioeconómica da Grécia tende a agravar-se e está neste momento em emergência, podendo contaminar os países do sul, o que é negado constantemente pelas autoridades europeias que assistem à situação helénica de uma forma inoperante.

O desfecho da situação grega será aguardado pelo executivo português com grande expetativa, uma vez que reclamará sempre o título de bom aluno da austeridade. Qualquer cedência ao executivo de Tsipras constitui uma derrota política da atual maioria parlamentar PSD-CDS/PP, que ao longo destes quatro anos exaltou a austeridade como uma bandeira.

Desta forma, emergem duas formas de negociação política no panorama europeu: uma capacidade negocial com as instâncias europeias na valorização das pessoas, investimento e na qualificação dos recursos humanos. Uma verdadeira alternativa política à dominante atual, assente no “custe o que custar”, no empobrecimento e aumento das assimetrias sociais, ou seja, na minimização do Estado Social, que muitos acusaram de ser uma verdadeira festa ou gorduras do Estado, ou seja, a soma de todos os males é do Estado-Providência.

A 20 de abril de 2015, o desfecho do impasse grego abrirá o início da pré-campanha para as legislativas em Portugal.

Embora afirmemos que não somos a Grécia, tendo em conta as mais recentes sondagens, a situação política em Portugal pós-legislativas poderá ser de uma autêntica tragédia grega perante a situação de possível ingovernabilidade e de um Presidente da República em vias de terminar mandato. Este ano, as legislativas em Portugal serão, porventura, o maior desafio à jovem democracia portuguesa de 41 anos.

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