Artigo de Opinião
A PRIMAVERA DE TSIPRAS
“Trouxe a Primavera de Atenas e espero que as relações greco-alemãs permaneçam neste clima”; referiu o Primeiro-ministro grego em Berlim perante a chanceler alemã Ângela Merkel. As declarações políticas na capital alemã dos dois líderes europeus mostraram que poderá existir um outro caminho no atual panorama político-europeu.
Tsipras realçou ao longo do seu discurso a importância da solidariedade europeia, reconheceu que as medidas tomadas pelos anteriores executivos gregos foram ineficazes, e que agravaram ainda mais a situação grega. A austeridade falhou.
Por sua vez, Merkel, jogando em casa, demostrou a hospitalidade alemã, fazendo referência à importância de todos os países da União Europeia. Sendo a cooperação e o diálogo princípios norteadores na resolução dos problemas europeus, alegou a responsabilidade histórica como essencial para a fortificação da Europa. “Quero salientar este espírito de que somos todos iguais. Temos consciência do passado, mas também consciência do futuro. A União Europeia é tão valiosa que temos que fazer esse esforço”, referiu a chanceler alemã.
O encontro entre Tsipras e Merkel era aguardado em Lisboa, nomeadamente em São Bento, como o encontro entre a moralidade e responsabilidade, uma espécie de sermão, onde se pretendia um reforço da dureza a Atenas por parte das autoridades alemãs.
O Governo de Portugal irá assistir ao desenrolar dos acontecimentos, como espectador participante, uma vez que alguma cedência aos gregos constituirá uma derrota política para a atual maioria.
Embora o nosso país seja apontado pelo Presidente do BCE como um exemplo de sucesso, o resultado desse sucesso no tecido socioeconómico do país é o do empobrecimento, do reforço das desigualdades sociais, assim como o desmantelamento do Estado-Social, esse monstro gordurento e de desperdício. Ainda a dívida pública portuguesa a aumentar diariamente. Senhor Draghi, ainda acha que estamos num bom caminho?
Para os lados de São Bento, pairam nuvens cinzentas perante o impasse grego. Por sua vez, Tsipras, embora não possa reclamar para já vitória, assiste, para já, à diminuição das taxas de juro da dívida grega a todas as maturidades, resultantes dos diálogos estabelecidos com Berlim e Paris no sentido de compromisso entre as autoridades de Atenas e a Europa. A via negocial deverá ser o meio encontrado para reerguer a Grécia da situação de emergência social e financeira em que se encontra.
Estamos, portanto, sob efeito da Primavera de Tsipras.
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